Um dia após serem alvo de bombas de gás, tiros de bala de borracha e ameaças da Polícia Militar do Distrito Federal, mulheres indígenas que estão, junto a dezenas de povos originários, protestando contra a tramitação de projeto de lei que inviabiliza a demarcação de terras, distribuiram flores aos policiais da Tropa de Choque que faziam o isolamento do prédio do Congresso Nacional, nesta quarta-feira (23), em Brasília.
"Somos um movimento de cura para uma sociedade doente", escreveu a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), pelas redes sociais, ao divulgar o ato.
Assista.
Os indígenas, de mais de 30 povos diferentes, estão há mais de uma semana em Brasília para protestar contra a tramitação do Projeto de Lei 490 (PL 490), que está em análise na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados, com grandes chances de ser aprovado e levado a plenário.
A proposta em análise na Câmara é uma bandeira ruralista e bolsonarista que, se aprovada, na prática vai inviabilizar as demarcações e permitir a anulação de terras indígenas, que serão entregues ao garimpo, construção de estradas e grandes hidrelétricas.
“Para garantir a proteção do meio ambiente é necessário, antes, garantir os direitos fundamentais dos povos indígenas, e o direito à terra é um deles. Pela demarcação das terras indígenas e contra a PL 490!”, afirma a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
Repressão
Os indígenas foram duramente reprimidos pela Polícia Militar em meio ao protesto contra a tramitação do PL que dificulta demarcação de terras, nesta terça-feira (22).
Em coletiva de imprensa, o deputado federal Alencar Santana Braga (PT-SP) deu detalhes sobre a violência policial que presenciou mais cedo e revelou, ainda, que foi ameaçado por um dos agentes, mesmo após ter se identificado como parlamentar.
Segundo o petista, ao ver que a Polícia Militar do Distrito Federal estava atirando bombas de gás e balas de borracha contra indígenas, tentou, junto ao deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), conversar com os agentes e pacificar a situação. Foi quando eles se depararam com um indígena que havia sido atingido por um tiro de bala de borracha e que estava desacordado.
Alencar conta que, mesmo diante dos feridos, a PM seguiu atirando bombas. Ele filmava toda a ação pelo celular quando, segundo relata, um policial mandou ele parar de gravar, apontando uma arma. O petista se identificou como deputado e, mesmo assim, o agente teria continuado apontando a arma em tom de ameaça.
“Nós [Alencar e Reginaldo Lopes], os socorristas, e 5 ou 6 indígenas estávamos socorrendo um indígena desacordado e levamos mais bombas. Eu estava filmando esse contingente da PM, e um policial mandando eu virar a câmera. Me identifiquei e ele chegou a mirar a arma. Não sei o tipo de arma. E continuou mirando. Comecei a discutir com ele, disse que minha arma era o celular. Ele continuou mirando dizendo que eu tinha que mudar de posição. Só para vocês verem o despreparo e conduta violenta da PM”, detalhou o parlamentar.
Reginaldo Lopes, que também presenciou a ação, endossou e chamou o que viu de “loucura total”. “Sempre na tropa tem um provocador, que deve ter incorporado o espírito bolsonarista, que acha que pode tudo. Me identifiquei e eles continuaram atirando. Tive que sair correndo, com o risco de levar um tiro”, declarou.
Segundo os parlamentares, 14 lideranças indígenas ficaram feridas com a ação da PM, sendo que duas estão hospitalizadas.