Em coletiva de imprensa realizada na tarde desta terça-feira (22), o deputado federal Alencar Santana Braga (PT-SP) deu detalhes sobre a violência policial contra indígenas em Brasília que presenciou mais cedo e revelou, ainda, que foi ameaçado por um dos agentes, mesmo após ter se identificado como parlamentar.
Segundo o petista, ao ver que a Polícia Militar do Distrito Federal estava atirando bombas de gás e balas de borracha contra indígenas que protestavam contra a tramitação Projeto de Lei (PL) 490/2007, tentou, junto ao deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), conversar com os agentes e pacificar a situação. Foi quando eles se depararam com um indígena que havia sido atingido por um tiro de bala de borracha e que estava desacordado.
Alencar conta que, mesmo diante dos feridos, a PM seguiu atirando bombas. Ele filmava toda a ação pelo celular quando, segundo relata, um policial mandou ele parar de gravar, apontando uma arma. O petista se identificou como deputado e, mesmo assim, o agente teria continuado apontando a arma em tom de ameaça.
"Nós [Alencar e Reginaldo Lopes], os socorristas, e 5 ou 6 indígenas estávamos socorrendo um indígena desacordado e levamos mais bombas. Eu estava filmando esse contingente da PM, e um policial mandando eu virar a câmera. Me identifiquei e ele chegou a mirar a arma. Não sei o tipo de arma. E continuou mirando. Comecei a discutir com ele, disse que minha arma era o celular. Ele continuou mirando dizendo que eu tinha que mudar de posição. Só para vocês verem o despreparo e conduta violenta da PM", detalhou o parlamentar.
"A gente lamenta o ocorrido. Lamentamos o que aconteceu com os indígenas atingidos por bombas e tiros de bala de borracha. Nós, parlamentares, fomos também agredidos. Um ataque desproporcional que gerou uma reação onde ambos os lados tiveram feridos. Mas a PM agiu fortemente de maneira covarde contra um povo que se manifestava por algo de seu interesse de maneira democrática", completou.
Reginaldo Lopes, que também presenciou a ação, endossou e chamou o que viu de "loucura total". "Sempre na tropa tem um provocador, que deve ter incorporado o espírito bolsonarista, que acha que pode tudo. Me identifiquei e eles continuaram atirando. Tive que sair correndo, com o risco de levar um tiro", declarou.
“Eu estava saindo do meu gabinete, porque havia muitas bombas, fui buscar informação e fui surpreendido com várias lideranças indígenas pedindo socorro. Naquele momento, a polícia disparou uma bala de borracha num indígena, que, pelo impacto, bateu a cabeça. Ele estava com baixa respiração e eu e depois o deputado Alencar Santana Braga, do PT de São Paulo, pedimos à polícia para não atirar, pois até em guerra há um código, mas, mesmo assim, eles ameaçaram a todo momento", detalhou ainda o petista.
Na mesma coletiva de imprensa, que reuniu deputados da oposição, a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) anunciou que seu partido vai entrar com uma representação contra a ação da PM do DF na manifestação dos indígenas. "Inadmissível", criticou.
Já Marcelo Freixo (PSB-RJ), líder da Minoria na Câmara, afirmou que os parlamentares de oposição vão pedir uma audiência com o governador do DF, Ibaneis Rochas (MDB), para tratar do assunto. "A PM não pode agir da maneira que agiu. É necessário que o governador nos receba para conversar sobre a forma de agir, conversar sobre protocolo", pontuou.
Segundo os parlamentares, 14 lideranças indígenas ficaram feridas com a ação da PM, sendo que duas estão hospitalizadas.
PL 490
O principal motivo da mobilização de inúmeros povos indígenas que estão em Brasília é a luta contra a tramitação do PL 490. O projeto seria o quarto item da pauta da reunião da CCJ, mas sua votação foi cancelada.
A proposta em análise na Câmara é uma bandeira ruralista e bolsonarista que, se aprovada, na prática vai inviabilizar as demarcações e permitir a anulação de terras indígenas, que serão entregues ao garimpo, construção de estradas e grandes hidrelétricas.
"Para garantir a proteção do meio ambiente é necessário, antes, garantir os direitos fundamentais dos povos indígenas, e o direito à terra é um deles. Pela demarcação das terras indígenas e contra a PL 490!", afirma a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).