Petroleiros desmentem Petrobras, reafirmam surto de Covid e deflagram greve

“É notória a tragédia que existe na Bacia de Campos, que já registrou dezenas de mortes de trabalhadores e trabalhadoras”, revela Tadeu Porto, diretor do Sindipetro-NF e da FUP

Bacia de Campos - Foto: Divulgação FUP
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O Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), filiado à Federação Única dos Petroleiros (FUP), desmente a Petrobras em relação às razões que levaram os trabalhadores a deflagrarem uma greve por tempo indeterminado, nesta segunda-feira (3). A principal motivação do movimento é defender a vida dos petroleiros expostos à contaminação pelo coronavírus.

De acordo com a entidade, várias plataformas de petróleo estão sofrendo com o surto da doença. Somente em abril, mais de 500 petroleiros foram contaminados nas plataformas, conforme dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

“É notória a tragédia que existe na Bacia de Campos, por exemplo, que já registrou dezenas de mortes de trabalhadores e trabalhadoras”, revela Tadeu Porto, diretor do Sindipetro-NF e da FUP.

A Petrobras, por sua vez, nega o surto e diz que recebeu com “estranheza” a convocação da greve dos trabalhadores nas plataformas da Bacia de Campos, na região Norte Fluminense.

“A gestão atual da Petrobras mancha a história da empresa, seguindo a linha negacionista do governo Bolsonaro”, afirma Tadeu.

O sindicato acusa a Petrobras de negligência, porque a empresa se nega a cumprir as leis e orientações sanitárias para impedir a contaminação nos seus locais de trabalho.

A entidade denuncia, também, a ilegalidade na escala implementada pela Petrobras, sem aprovação da categoria e indo contra o Acordo Coletivo de Trabalho. Além da ação ilegal da escala maior do que 14 dias embarcado, a Petrobras não emite a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), mesmo quando é evidente que os empregados foram contaminados dentro do seu ambiente de trabalho.

Reivindicações

A categoria dos petroleiros defende a adoção de escala de, no máximo 14 dias nas plataformas, como determina lei e acordo coletivo vigentes, testes de Covid-19 no meio e no fim da escala - atualmente a testagem é feita somente no embarque -, teste para pessoal que está em terra e cumprimento de todas as recomendações do Ministério Público do Trabalho (MPT), como o uso de máscaras de proteção PFF2 para todos os trabalhadores.

“Todas as semanas recebemos apelos desesperados de trabalhadores e trabalhadoras denunciando casos de Covid-19 em plataformas da Bacia de Campos. São pessoas que ficam 14 dias ou mais nesses ambientes, tempo suficiente para que uma pessoa que chegue contaminada a uma plataforma infecte várias outras. Estamos registrando surtos em diversas unidades nos últimos meses, com desembarque urgente de dez, 20 ou mais trabalhadores. Como a Petrobras pode negar que a contaminação se deu na plataforma e não considerar como acidente de trabalho? É negar o óbvio”, diz o coordenador-geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezerra.

O 54º Boletim de Monitoramento da Covid-19, divulgado pelo Ministério de Minas e Energia (MME) no dia 26 de abril, mostra que a Petrobras registrou 6.418 casos de contaminação pela doença, 13,8% dos 46.416 trabalhadores próprios do Sistema Petrobras.

No momento, segundo o boletim, há 192 casos confirmados e em quarentena, 47 hospitalizados, 6.153 recuperados e 26 mortes.

Terceirizados

Porém, segundo o sindicato, esses números não refletem a realidade, principalmente, porque não abrangem trabalhadores terceirizados.

De acordo com cálculos da FUP, baseados em denúncias, somando próprios e terceirizados, já são mais de 80 mortos.

“Há estudos sólidos que envolvem o Ministério Público do Trabalho, a Fiocruz e outras entidades que demonstram como o Covid-19 é uma ameaça aos trabalhadores a bordo. Na Bacia de Campos tivemos diversos casos, mas a Petrobras omite os números da gente”, acrescenta Tadeu.