Em 2017, a vereadora de Porto Alegre Laura Sito (PT), que era então suplente, propôs que a Câmara indicasse à Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul a possibilidade de mudar um trecho do hino do estado, considerado racista.
A sugestão era modificar a frase “Povo que não tem virtude acaba por ser escravo”, criticada pelos movimentos sociais negros. Na nova letra proposta por Laura o trecho seria substituído por verso inspirado na poesia de Oliveira Silveira “Povo que não tem virtude acaba por escravizar”.
Laura Sito justificava o pedido dizendo que o hino gaúcho relacionava “uma ideia errônea sobre o processo que torna um humano escravo”. Ainda escreveu que considerava “fundamental fazermos releituras de elementos tradicionais que possam manter um ideário discriminatório”.
A indicação foi relatada pela vereadora Comandante Nádia (DEM), na época no MDB. Ex-oficial da Brigada Militar, a Polícia Militar daquele estado, a parlamentar deu parecer contrário à indicação.
Na negativa ao pedido, Nádia disse que a proposta era “falaciosa”, “simplista” e “descompromissada com os valores do povo”. Ela ainda escreveu em seu parecer que nos dias atuais há uma “visão dualista” imposta pelos “ditos poderosos” “escravizando a massa dos deserdados da educação”.
A negativa foi dada em parecer da Comissão de Defesa do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana. No documento, ela diz que vai traçar a história do hino para “fugir da superficialidade com que muitas vezes tratamos de nosso patrimônio cultural, ou por desconhecimento histórico, ou por interesses pseudossociais, ou ainda por incapacidade de ver o todo do contexto histórico”.
Ainda dizia que o hino estava listado entre os símbolos do estado na Constituição estadual, “não sendo, portanto, matéria de legislação municipal”, ignorando que a proposta era exatamente fazer uma indicação à Assembleia Legislativa para que tratasse do assunto.
Embate na posse
Na posse dos vereadores eleitos, na última sexta-feira (1º), a Comandante Nádia tentou passar uma descompostura em seus colegas de bancada negros que não se levantaram durante a execução do hino. Fez questão que a reclamação constasse da ata da sessão.
No entanto, o que ouviu em resposta foi uma aula de história do colega Matheus Gomes (PSOL), um dos que compõem a bancada negra da casa, ao lado, entre outros, de Laura Sito, que nas últimas eleições ganhou uma vaga de titular na casa.
Gomes pediu uma questão de ordem e afirmou:
“Nós, como bancada negra, pela primeira vez na história da Câmara de Vereadores, talvez a maioria daqui que já exerceram outros mandatos não estejam acostumados com a nossa presença, não temos obrigação nenhuma de cantar um verso que diz: ‘povo que não tem virtude acaba por ser escravo’”, disse
Matheus disse ainda ser historiador, “faço mestrado na UFRGS, a nossa instituição, a Universidade Federal, é uma das mais importantes do nosso estado, fruto da luta de muitos de nós aqui, já reconhece a não obrigatoriedade das pessoas terem que tocar o hino devido a esse conteúdo racista dele em solenidades oficiais e acho que seria muito importante a Câmara de Porto Alegre também começar a se perguntar sobe esse tema”.