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"Desesperador. Já fui em muitas manifestações com repressão, mas essa ação foi fora do padrão, totalmente desproporcional". Assim a professora da rede municipal de São Paulo, Monique*, descreveu à Fórum os momentos de pânico durante um protesto de servidores em frente a Câmara dos Vereadores na tarde desta quarta-feira (14). Os trabalhadores e trabalhadoras, em sua maioria professores, se manifestavam contra a votação de um projeto de lei do governo Doria de reforma da previdência municipal. O PL propõe mudanças que vão desde aumento da taxa de contribuição previdenciária ao congelamento do salário de servidores aposentados.
Pouco antes das 13h, horário marcado para a votação da matéria na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a frente do prédio da Câmara Municipal já estava totalmente tomada por servidores, em sua maioria professores, que estão em greve há uma semana por conta da proposta. Apenas uma pequena parcela dos milhares de professores que compunham a manifestação conseguiram entrar na Câmara. Segundo relatos, tanto os que estavam na parte de dentro do prédio quanto os de fora, que tentavam entrar na Câmara, começaram a ser atacados gratuitamente pela Polícia Militar e pela Guarda Civil Metropolitana. Uma professora que acompanhava a sessão do lado de dentro do prédio, inclusive, foi atingida por um soco no rosto desferido por um guarda civil.
Fórum conversou com duas professoras que estavam na manifestação que relataram o quão desproporcional foi a ação da PM e da GCM. De acordo com elas, apesar da tentativa dos manifestantes de entrarem no prédio, eles não ofereciam qualquer risco. Pelo contrário. Segundo contam as professoras, a maioria daquelas pessoas que estavam protestando eram mulheres, já que a categoria de professores municipais é majoritariamente feminina. Também estavam presentes e foram atacadas pela polícia professoras idosas, aposentadas e crianças.
"Não teve enfrentamento, teve uma agressão por parte da PM e da GCM. A manifestação era absolutamente pacífica. O que tinha era gente colando cartaz na porta da Câmara e gritando palavras de ordem. Havia muitas Mulheres. Elas eram a maioria. Muito aposentado, senhoras de idade tendo dificuldades para correr, passando mal (...) E não eram nem sindicalistas. Eram professoras, servidoras, gente comum passando por essa situação", relatou a professora Monique.
Na mesma linha vai o relato da professora Valéria*. "Foi bem feio. Professores mais idosos que estavam lá ficaram muito preocupados com essa ação. Absurdo. Era uma manifestação pacífica. A maioria eram mulheres, que foram lá não pra provocar ninguém - porque a gente sabe que isso existe. Mas eram mulheres trabalhadoras que foram agredidas, inclusive com bala de borracha. Já vi manifestações truculentas, mas não assim".
As professoras contaram ainda que, em um determinado momento, a Tropa de Choque cercou um gradil que fica do lado de fora do prédio da Câmara e começou a atirar bombas de gás e spray de pimenta, encurralando os manifestantes que estavam naquele perímetro. Sem ter para onde correr, muitos passaram mal com os efeitos dos gases e não podiam ser socorridos. Os que não estavam no gradil se abrigaram em comércios próximos, que fecharam as portas.
"É o jeito que o PSDB tem de dialogar com os servidores. O Alckmin faz isso no estado e o Doria na prefeitura. Antes de abandonar a prefeitura, o Doria já dá o seu cartão de visitas do que vai fazer como governador do estado", pontuou Monique.
Mesmo diante de toda a truculência e com obstruções, o CCJ da Câmara dos Vereadores conseguiu aprovar o projeto, que ainda tem que passar por duas comissões antes de ir a plenário.
Fórum entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) para obter um posicionamento sobre a ação da Polícia Militar na manifestação e a pasta se limitou a informar que interveio pois houve um "tumulto".
"Os manifestantes teriam solicitado que os portões fossem abertos, para que pudessem acompanhar o processo, mas foram autorizados somente parte deles a entrar, iniciando um tumulto. Houve necessidade de intervenção", diz a nota.
A GCM ainda não se pronunciou.
*Os sobrenomes das professoras foram omitidos por razões de segurança