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Na 5ª Assembleia Nacional da Consulta Popular foi decidido por unanimidade o apoio a candidatura de Lula em 2018 vinculada a convocação de uma assembleia nacional constituinte para reverter os desmontes promovidos pelos golpistas. Ricardo Gebrim, da coordenação nacional da Consulta, detalhou em entrevista à Fórum quais são as estratégias. Confira
Por Ivan Longo
Foi encerrada na última sexta-feira (17) a 5ª Assembleia Nacional da Consulta Popular Zilda Xavier, organização política nacional fundada em 1997.
No encontro, os 850 delegados e delegadas aprovaram, por unanimidade, o apoio a uma candidatura de Lula à presidência em 2018.
Em entrevista à Fórum, o coordenador nacional da organização, Ricardo Gebrim, explicou que apoiar uma candidatura de Lula neste momento pós-golpe significa muito mais que apoiar uma simples candidatura, mas representa toda uma simbologia de enfrentamento aos retrocessos impostos pelos golpistas.
Para a Consulta Popular, a candidatura de Lula deve estar atrelada a convocação de uma assembleia nacional constituinte que, inclusive, já é pauta que vem sendo encampada pelo petista.
Confira a íntegra da entrevista e, ao final da matéria, a carta política elaborada ao fim da assembleia da Consulta Popular.
Fórum - Quais foram os principais pontos discutidos e principais encaminhamentos da 5ª Assembleia Nacional da Consulta Popular?
Ricardo Gebrim - Bom, o primeiro elemento foi tentar fazer uma análise coletiva do momento que estamos vivendo. Um ataque sem precedentes. O golpe está destruindo as bases da estrutura nacional, a base de desenvolvimento, nossa soberania. Compreender isso é importante pois, compreendendo a gravidade do ataque, dessa verdadeira derrota que nos impuseram, que não é apenas uma derrota política, nós estamos compreendendo que é o momento em que a unidade das forças democráticas e populares deixa de ser apenas um desejo, mas uma necessidade. Por isso estamos reforçando a nossa compreensão e apostando todas as nossas energias na construção da Frente Brasil Popular.
A ideia é enraizá-la cada vez mais, atrair para a participação pessoas das mais variadas concepções. Essa foi uma compreensão importante e se soma ao significado de cerco político que estamos vivendo para as eleições de 2018, onde a candidatura do Lula, que foi aprovada por unanimidade pelos 850 delegados, tem um significado especial. Não se trata apenas de mais uma eleição. Se trata, nesse momento, de furar o cerco, aproveitar o significado da simbologia do que representa a figura de Lula, todo um programa. E nesse momento nós achamos que a candidatura deva se vincular a proposta de uma assembleia nacional constituinte, que torne, inclusive, viável essa candidatura. A soberania nacional está sendo desmantelada. Como que você retoma um projeto de crescimento, de desenvolvimento econômico, sem uma constituinte? Por isso achamos que isso é essencial nesse momento.
Fórum - Lula tem falado muito de referendo revogatório das reformas do governo Temer. E quanto a essa assembleia nacional constituinte, ele tem se comprometido com a Consulta?
Ricardo Gebrim - O Lula não pode comparecer na assembleia mas mandou uma importante mensagem política. E nas caravanas ele vem levantando com bastante ênfase essa proposta da assembleia. Mas o que estamos entendendo é que há uma intensa mobilização dos setores golpistas pra tentar inabilitar a candidatura de Lula em qualquer hipótese. E inviabilizar a candidatura de Lula, neste momento, é golpe. Essas eleições abrem condições de enfrentarmos essa derrota política que foi o golpe e impedir que os golpistas se legitimem no processo eleitoral.
Fórum - E quais estratégias a Consulta Popular tem traçado junto aos movimentos sociais para impedir que a candidatura de Lula seja inviabilizada?
Ricardo Gebrim - Bom, as caravanas que estão sendo realizadas pelo Lula e denunciam essa tentativa de inabilitá-lo cumprem um papel importante. Mas não se trata apenas de construir essa perspectiva para 2018. Se trata também de conseguirmos uma ampla unidade para barrar ataques que são importantes que estão sendo feitos pelos golpistas, como o que chamam de reforma da Previdência. Essa é outra batalha decisiva que a gente conta muito com a Frente Brasil Popular, as centrais sindicais, para fazermos o possível nesse momento pra impedir que eles se aproveitem deste final de ano pra encampar esse ataque profundo contra os trabalhadores.
Há uma combinação das lutas de massa e resistência nesse momento com a construção de uma campanha que vai desembocar na candidatura de Lula e uma assembleia nacional constituinte.
Fórum - O Walter Sorrentino, do PCdoB, esteve presente da assembleia da Consulta Popular. Como vocês da Consulta receberam a oficialização da pré-candidatura de Manuela D'Ávila?
Ricardo Gebrim - Nós entendemos que a candidatura da Manuela é uma candidatura legítima e, neste momento, como foi afirmado pelo próprio Sorrentino, ela tem muito mais a perspectiva de colocar os pontos que são fundamentais da unidade e não ser um entrave da unidade das forças democráticas. Portanto, na medida em que a candidatura do Lula se mantenha e se viabilize, creio que a unidade atrairá o conjunto das forças. E o PCdoB tem dito isso, que não será um entrave da unidade democrática, e eu confio muito nisso.
Carta política
CARTA DA 5ª ASSEMBLEIA NACIONAL ZILDA XAVIER
“Os que virão serão povo e saber serão, lutando”, Thiago de Mello
Na cidade de Fortaleza (CE), reunidos entre 13 e 17 de novembro, no mês da Consciência Negra, e também do assassinato do comandante Marighella, nós, 850 lutadoras e lutadores do povo, vindos de 24 estados do Brasil, realizamos nossa 5ª Assembleia Nacional Zilda Xavier, na qual reafirmamos a construção da luta no seio do povo e a necessidade de unidade das forças democráticas e populares em torno de um projeto estratégico de poder.
Denunciamos que o governo ilegítimo de Temer e as forças golpistas aplicam o receituário do capitalismo financeiro internacional: desmantelamento do Estado democrático; perdas de direitos da classe trabalhadora; privatização dos bens da natureza e das empresas públicas; subordinação à política externa dos EUA.
Reconhecemos a importância das conquistas no período de governos anteriores, porém apontamos que o poder e a política devem se pintar de povo, de consciência, de pertença da classe trabalhadora à organização popular, para construir força social rumo a um Estado sob hegemonia da classe trabalhadora.
Somos construtores e construtoras do Projeto Popular para o Brasil, projeto de país que resolva os problemas do povo brasileiro, via reformas estruturais e de base. Trabalhadores, mulheres, LGBTs, camponeses, negros e negras, juventude, setores médios e democráticos se reconhecerão nesse projeto. O momento de polarização política entre as classes sociais reforça sua atualidade.
A Frente Brasil Popular, mais que um espaço de resistência contra o golpe, é lugar de coesão e unidade de todas as forças democráticas e populares, de defensiva e resistência, mas soprando o vento de um novo ciclo de avanço de nosso povo contra a entrega da nação. Com o exemplo pedagógico das lutadoras e lutadores do povo, a Frente também é raiz a se espalhar em cada cidade.
Sabemos que as eleições de 2018 vão refletir a polarização da luta de classes e não mediremos esforços no sentido de defender a candidatura de Lula, de modo que o governo popular se comprometa com a convocatória de uma Constituinte, inaugurando uma nova constitucionalidade, marcada pelos interesses do povo, para que os direitos da população sejam restituídos. Enfim cumprindo a tarefa histórica, ainda inconclusa, de democratização do país.
Respiramos, nesses cinco dias, a simbologia revolucionária, ao recordar o legado da dirigente Zilda Xavier. A homenagem a líder feminista e revolucionária é um convite a buscar na luta contra a ditadura militar força para os novos desafios: a ousadia, a capacidade organizativa de Zilda, a confiança política, a ação forjando o instrumento político. Este é o rio da História no qual nossa vela se sustenta. Nosso caminho é de dores, mas de alegrias e de mística revolucionária.
Nesses vinte anos, reafirmamos nossos compromissos com a soberania, sustentabilidade, democracia, solidariedade, desenvolvimento e feminismo enquanto nossos princípios.
Plantamos, em conjunturas difíceis, a flor e o caule da revolução brasileira, que não se rompe diante de conjuntura de cerco e ataques por parte dos inimigos do povo. Saímos da Assembleia fortalecidos em unidade, lealdade, nos princípios do internacionalismo e solidariedade entre os povos. Com energia para a construção de um projeto: Somos Projeto Popular!
Marchar, lutar, somos a Consulta Popular!
Pátria Livre, Venceremos!
Fortaleza, 17 de novembro de 2017.
Foto: RBA