Nós, judeus brasileiros contrários às políticas de Israel, sentimos a necessidade de nos posicionar, de fazer valer a nossa voz. De dizer, em alto e bom som, que apesar de sermos judeus, não somos sionistas. Somos contrários à ocupação israelense da Palestina
Por Bruno Huberman (*)
Participamos na manhã desta quarta-feira, 6 de agosto, ao lado de alguns amigos judeus, de um protesto contra as ações do Estado de Israel na Palestina Ocupada e, principalmente, contra o massacre ocorrido na Faixa de Gaza nas últimas semanas, em frente ao Consulado Geral de Israel em São Paulo, localizado em um edifico comercial na região da Avenida Berrini, zona sul da capital. Éramos em torno de dez judeus brasileiros, segurando cartazes, gritando frases de protesto e mostrando nossa indignação contra este Estado que não nos representa.
Ficamos lá por volta de duas horas. Chamamos a atenção de alguns curiosos e transeuntes. Alguns jornalistas e fotógrafos de veículos de imprensa realizaram a cobertura jornalística. Dois carros da Polícia Militar acompanharam o nosso protesto tranquilamente. Um dos PMs se disse favorável à nossa causa. Um membro da Federação Israelita de São Paulo, Rubens Daniel Douek, veios discutir com a gente. “Vocês não têm vergonha na cara, não?”, perguntou.
Não, não temos. Entendemos que a nossa posição política pode parecer inusitada para muitos. E até difícil de entender. Afinal, Israel não é o lar nacional dos judeus? A Terra Prometida por Deus ao “povo escolhido”? A irrestrita defesa das ações de Israel por parte dos maiores representantes da comunidade judaica no Brasil e em todo o mundo sufocam a voz daqueles que são contrários. No entanto, as comunidades judaicas, assim como todos grupos sociais, são multifacetados, plurais.
Diante dessa situação, nós, judeus brasileiros contrários às políticas de Israel, sentimos a necessidade de nos posicionar, de fazer valer a nossa voz. De dizer, em alto e bom som, que apesar de sermos judeus, não somos sionistas — o movimento formado por judeus europeus no final do século XIX que deu origem ao Estado de Israel. Somos contrários à ocupação israelense da Palestina. Somos contrários ao embargo israelense a Faixa de Gaza. Somos contrários aos assentamentos judeus na Cisjordânia. Somos contrários ao Muro da Cisjordânia. Somos contrários ao massacre diário de civis palestinos. Somos contrários a toda forma de opressão perpetrada pelo Estado de Israel.
Embora brasileiros, nós, judeus, temos mais direitos que os palestinos que vivem há séculos naquelas terras e resistem à ocupação israelense há décadas. Israel não é um país onde os palestinos possam viver com plenos direitos por seu caráter etnocêntrico e é evidente qualquer impossibilidade de um Estado palestino existir no atual status quo. Não podemos mais ficar calados diante dessas aberrações, nos posicionar e dizer em alto e bom som: Israel não nos representa!
(*) Bruno Huberman é jornalista e mestre em Relações Internacionais pela PUC-SP