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Na segunda-feira, eles receberam ligações anônimas. "Por que você defende bandido?", dizia a voz do outro lado da linha
Por Redação
[caption id="attachment_42145" align="alignleft" width="418"] As ligações aconteceram na segunda-feira, em meio à polêmica causada pela morte do cinegrafista Santiago Andrade . Ele foi atingido por um rojão enquanto trabalhava na cobertura de um protesto, na última quinta-feira (Foto: Reprodução)[/caption]
O advogado Felipe Coelho e o estudante de direito Hugo Pontes receberam ligações anônimas na última segunda-feira (10), dia em que protestos contra o aumento da passagem do transporte coletivo ocorreram no Rio de Janeiro. Ambos colaboram voluntariamente com o Instituto de Defensores dos Direitos Humanos (DDH), que presta assistência jurídica a pessoas detidas durante as manifestações.
Antes de todos os atos, o DDH publica na internet uma nota com os telefones dos profissionais que estarão trabalhando naquela ocasião. Os números de Coelho e Pontes constavam na mensagem, que foi disseminada pelas redes sociais.
Coelho conta que, antes de ir à rua, às 19h22, recebeu telefonema de um número restrito. Quando atendeu, uma pessoa que não se identificou perguntou se ele se encontrava na ONG (referindo-se ao DDH) e se poderia comparecer à delegacia, onde manifestantes estariam detidos. "Achei estranho porque, quando nos ligam pedindo ajuda, não perguntam onde estamos", aponta.
Cerca de uma hora e meia depois, o celular voltou a tocar. Novamente, o número de quem chamava não estava à mostra. A pessoa do outro lado da linha foi mais incisiva. "Disse que eu era advogado de bandido. Pra eu tomar cuidado. Isso nunca tinha acontecido antes", revela. Em ambas as chamadas, as vozes eram masculinas, mas diferentes.
Hugo recebeu uma ligação por volta das 17h. Em seu caso, era possível ver o número que ligava. Ao atender, um homem se identificou como Thiago Tavares. "Ele se apresentou como um cidadão que estava inconformado e queria fazer uma queixa. Perguntou porque eu estava defendendo bandidos", explica o estudante. "Falou que quem andava com assassino é assassino também. Que era melhor a gente repensar voltar pra rua ou ir para as delegacias de novo, porque ia começar a morrer mais gente nas manifestações e o próximo poderia ser eu".
Felipe e Hugo consideram os telefonemas reflexo dos acontecimentos das últimas semanas, que acirraram os ânimos em torno dos protestos de rua. Junto a outros colegas que passaram pela mesma situação, organizam, agora, um dossiê com informações sobre as ligações - o horário em que ocorreram, tempo de duração, número, conteúdo. O registro é uma forma de se precaver, caso os episódios desta semana deixem de ser fatos isolados e passem a ser frequentes. Eles discutem, também, se vão registrar boletins de ocorrência.