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Afirmação de liderança indígena foi feita após mais um protesto que interrompeu a programação do FMDH
Por Igor Carvalho, de Brasília
[caption id="attachment_37889" align="alignleft" width="300"] Protesto indígena paralisou o FMDH, mais uma vez (Foto: Filipe Campos - Viração)[/caption]
A instalação da Comissão Especial que vai debater a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215 na última terça-feira (10) gerou mais um protesto de indígenas no Fórum Mundial de Direitos Humanos (FMDH) hoje (11). No primeiro dia do evento, ontem, outra manifestação indígena já havia sido realizada.
Índios da etnia Tuxa, da Bahia, interromperam o encerramento da mesa que debatia “Os direitos humanos como bandeira de luta de povos” e tentaram subir ao palco, mas foram impedidos por seguranças. Aos gritos de “Não à PEC”, os indígenas foram aplaudidos de pé pelas centenas de pessoas que integravam a plateia. No palco, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, que em quase uma hora de discurso enfileirando os problemas de sua pasta no Brasil, não citou as palavras “índio” ou “indígena” nenhuma vez, abraçou uma das índias.
Durante o debate "Direito à memória, verdade e justiça", o deputado federal Nilmário Miranda (PT-MG) lamentou a formação da comissão. "Queria me solidarizar com os indígenas. Ontem foi um péssimo dia para o Brasil, foi instalada a PEC 215, e é um retrocesso. A Casa Grande nunca descansa."
Entre os indígenas estava Ash Ashaninka, da Aldeia Maracanã, do Rio de Janeiro, um dos mais irritados. “Os direitos humanos no Brasil não existem, é uma falsidade. Esse Fórum nem deveria estar acontecendo. A não ser que não me considerem humano, porque meus direitos não são respeitados. O que existe é o direito dos negócios.”
[caption id="attachment_37892" align="alignright" width="300"] Outro grupo de indígenas, da Bahia, que também protestou. Ao centro (camiseta preta) o indígena Tumamam (Foto: Igor Carvalho)[/caption]
Entre os corredores e salas do enorme Centro de Convenções Internacional do Brasil, que recebe o FMDH, há muitas reclamações do alijamento indígena na programação. É verdade que o Guarani Kaiowá Tonico Benites dividiu, nesta quarta-feira (11), uma das principais mesas do evento, com a procuradora Ela Wiecko, mas a presença de temas de interesses dos índios são escassos no amplo painel de debates.
“Em eventos internacionais mandam a Funai, não colocam nenhuma liderança indígena legítima para nos representar. Aqui mal participamos nesse Fórum. O lema no Brasil é: 'ruralista manda, governo obedece, Polícia Federal executa e índio morre'”, afirmou o índio Timamam, da etnia Tuxa, de Rodelas na Bahia.
Timamam explica que, em sua visão, houve um recuo na política indigenista durante o governo da presidenta Dilma Rousseff. “O governo do PT está tentando mascarar a realidade indígena no mundo. Nós, povos indígenas, tentamos demonstrar isso de qualquer forma, mas não temos espaço.”
Igor Carvalho está no Fórum Mundial de Direitos Humanos a convite da organização