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Zé Dirceu: Como derrotar o fascismo no século XXI

Ex-ministro do governo Lula, concede aula exclusiva sobre como conter o avanço da extrema direita mundial; veja como participar

Zé Dirceu: Como derrotar o fascismo no século XXI.Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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O ex-ministro José Dirceu foi convidado para discutir o tema do fascismo sob diversas perspectivas, especialmente no contexto das crises atuais do capitalismo dentro do curso "Como combater o fascismo nas eleições", promovido pela Revista Fórum, que já contou com aulas do editor da Fórum, Renato Rovai, do sociólogo Sergio Amadeu, do jurista Pedro Serrano e do jornalista Breno Altman. 

A aula começou com uma introdução feita por Sérgio Amadeu e pelo próprio Dirceu, ressaltando a importância de se debater as contradições do capitalismo e como elas contribuem para o ressurgimento de movimentos fascistas ao redor do mundo. Segundo eles, compreender esses fatores é crucial para formular estratégias eficazes de enfrentamento, tanto nas ruas quanto nas redes e nas eleições.

Dirceu iniciou sua fala relembrando os impactos históricos do capitalismo no século XX, destacando as duas guerras mundiais e a Grande Depressão como momentos críticos que resultaram em milhões de mortes e na devastação de diversos países. Ele mencionou que esses eventos serviram de terreno fértil para o crescimento de regimes autoritários, como o fascismo de Mussolini, o nazismo de Hitler e o militarismo japonês. “Esses fenômenos não surgiram do nada, foram o produto direto de crises estruturais do capitalismo”, afirmou Dirceu.

O ex-ministro também abordou o período do pós-guerra, quando o capitalismo passou por uma autorregulação significativa, com a criação de instituições como o FMI e o Banco Mundial, além de um esforço para reconstruir economias devastadas, especialmente na Europa e na Ásia, por meio do Plano Marshall. Durante os chamados "anos gloriosos", políticas de bem-estar social foram implementadas, impulsionadas pelas lutas de trabalhadores e pela pressão de partidos socialistas e comunistas.

Contudo, Dirceu argumenta que, a partir dos anos 1980, com o advento do neoliberalismo e o Consenso de Washington, o capitalismo começou a desmantelar essas políticas sociais e a intensificar a financeirização da economia, levando à precarização do trabalho e ao aumento das desigualdades. Segundo ele, foi nesse contexto de desregulamentação que se abriram as portas para o ressurgimento da extrema direita e do fascismo, impulsionado pelas crises econômicas recorrentes e pelo desemprego em massa. “A desindustrialização e o enfraquecimento dos sindicatos são os motores que alimentam a ascensão de movimentos autoritários”, destacou.

Outro ponto importante da aula de Dirceu foi a ascensão da China e de outras potências regionais como Índia, Turquia e Irã, que, segundo ele, estão desafiando a hegemonia dos Estados Unidos e da Europa. Para Dirceu, o crescimento econômico e a autonomia geopolítica desses países, somados às crises internas dos países ocidentais, têm criado uma nova ordem mundial que favorece o crescimento de governos autoritários. “Estamos vendo uma reorganização global que não é mais dominada exclusivamente pelo Ocidente, e isso tem implicações profundas para o futuro das democracias”, afirmou.

A política externa norte-americana e suas sanções contra países como a Rússia e a China também foram analisadas. Dirceu argumenta que essas políticas estão desestabilizando ainda mais o cenário internacional, alimentando a radicalização política em diversos países. Ele citou o caso da Rússia, que, apesar de ser alvo de sanções severas, tem conseguido contornar essas restrições e se fortalecer como potência militar e econômica. “A Rússia é um exemplo de como um país pode se reerguer mesmo diante de embargos severos e tentar seguir um caminho independente do sistema financeiro internacional”, disse.

No contexto brasileiro, Dirceu fez uma análise do bolsonarismo, comparando-o ao fenômeno do trumpismo nos Estados Unidos. Ele enfatizou que o fascismo no Brasil também tem suas raízes na crise econômica, nas desigualdades sociais e no desmantelamento das redes de proteção social. Além disso, mencionou a importância da guerra cultural promovida por setores conservadores e neopentecostais, que têm usado a pauta de costumes para mobilizar a base da extrema direita. “A guerra cultural é o principal instrumento de mobilização das forças autoritárias no Brasil hoje, especialmente nas redes sociais”, afirmou.

Para concluir, Dirceu ressaltou a importância de uma reorganização das esquerdas no Brasil, especialmente no que diz respeito à utilização das redes sociais e ao fortalecimento das bases populares. Ele defendeu que a luta contra o fascismo e a extrema direita deve ser feita com a criação de um novo programa político, capaz de enfrentar as mudanças tecnológicas e as novas formas de organização do trabalho. “Precisamos repensar nossas estratégias e criar um novo modelo de organização para vencer as batalhas que virão, nas ruas e nas urnas”, finalizou.

Uma nova aula do curso de Zé Dirceu será exibida neste domingo (29). Para participar, clique aqui. 


 

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