José Dirceu, ex-ministro e quadro histórico do Partido dos Trabalhadores, utilizou um artigo de opinião publicado na Folha de S. Paulo nesta terça-feira (19) para criticar a matéria do jornal sobre a "denúncia" de que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), teria utilizado o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Corte que presidia, para embasar investigações contra alvos bolsonaristas do inquérito das fake news e da tentativa de golpe de Estado.
De forma assertiva, Dirceu afirma que "setores da sociedade e da mídia tentam se alinhar à nova face do bolsonarismo", que seria representada pelo governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas. O ex-ministro revela quais são os verdadeiros interesses por trás da reportagem em questão e mostra como a suposta denúncia endossa o movimento golpista e dá base aos ataques do bilionário Elon Musk ao judiciário brasileiro.
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"Imediatamente, os bolsonaristas passaram a pedir o impeachment de Moraes e defender que todas as punições dadas por ele sejam revistas. Querem, ainda, anistia para os golpistas de 8 de janeiro de 2023 e para o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro —tanto em torno dos primeiros quanto do segundo o cerco vai se fechando", escreve Dirceu.
O ex-ministro chama atenção para o fato de que a reportagem da Folha veio às vésperas das eleições municipais e que visa enfraquecer a figura de Moraes, algo que beneficiaria bolsonaristas divulgadores de fake news que poderiam ser contidos através do Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia, criado pelo ministro enquanto presidente do TSE.
"[Fragilizar Moraes] é importante para a estratégia eleitoral bolsonarista, pois ela depende da disseminação de mentiras para manter suas bases estimuladas e alinhadas. Se o TSE for muito ativo, ela perde pontos. Se acuar o TSE, pode agir mais livremente nas redes", pontua.
"Também chama a atenção que a denúncia tenha repercutido nas redes de direita no exterior e tenha sido comentada por Elon Musk, dono do X (ex-Twitter) e crítico de Moraes, a quem acusa de cercear a liberdade de expressão com seu inquérito das fake news, através do qual determinou a suspensão de contas de extremistas em redes sociais. Musk, um sul-africano que se fez bilionário nos Estados Unidos e é dono de várias empresas de tecnologia, é apoiador declarado de Donald Trump, que, como Bolsonaro e seus seguidores, é adepto da disseminação de mentiras nas redes sociais", prossegue Dirceu.
Na parte final do artigo, José Dirceu escancara outro aspecto por trás da matéria da Folha contra Moraes: os interesses da "Faria Lima" e um bolsonarismo repaginado.
"Não resta dúvida de que a denúncia, que já começou a refluir, mostrou que a extrema direita está muito ativa e atenta a todos os movimentos de que possa se aproveitar para fortalecer sua posição em direção ao seu projeto de poder para 2026. Mostrou também o quanto setores da sociedade e da mídia tentam se alinhar com a nova face do bolsonarismo, que responde pelo nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas —a "suíte" [no jargão jornalístico, reportagem que explora os desdobramentos de um fato noticiado] saiu da Polícia Civil paulista. Tarcísio é aquele que vendeu a Sabesp a preço de banana, fazendo a alegria dos rentistas, e promete, se chegar à Presidência, privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa e, quiçá, o BNDES. A Faria Lima já faz fila para apoiá-lo. Não podemos permitir que isso aconteça".