No início de abril deste ano, a Rede Globo foi condenada, em primeira instância, a indenizar a repórter Veruska Donato por impor uma “ditadura da magreza” que a deixou doente, com Síndrome de Burnout (estresse e esgotamento físico devido a trabalho desgastante).
Com isso, a emissora poderá ter que pagar mais de R$ 8 milhões à jornalista, entre indenizações e direitos trabalhistas.
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Esta é a primeira vez que a rede de TV poderá ser punida (ainda cabe recurso) por estabelecer um “padrão Globo de beleza”, interpretado pela Justiça como prática misógina.
Apesar de ter deixado a emissora em 2021, depois de 21 anos de casa, Veruska ainda não conseguiu se livrar, definitivamente, do trauma que ficou.
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“Tenho pesadelos com a Globo quase toda semana. Tenho pesadelos horríveis. Sonho que estou contratada, trabalhando na empresa ainda, e aí, quando chego com o meu material para botar no ar, eles dizem: ‘Não, mas você não trabalha mais aqui’. É tudo muito confuso. Fico sem casa, começo a passar fome, não arrumo mais emprego em lugar nenhum, porque é mais ou menos isso que aconteceu”, declarou a jornalista, em entrevista ao Splash, no UOL.
Ela relatou que sentiu uma diminuição nas ofertas de trabalho depois que ingressou na Justiça contra a emissora da família Marinho.
“Eu queria que as pessoas soubessem, eu queria que soubessem por mim que não foi legal. Eu queria que as pessoas soubessem que eu sofri. Eu sofri. Doía você se achar incompetente. Dói, depois de tantos anos, e você beirando os 50, porque quando eu saí de lá eu tinha 49. Eu fiz por dor, porque doeu”, relembrou.
Veruska forneceu detalhes da pressão que sofreu na Globo. “Me levaram a um cabeleireiro no Rio de Janeiro. Ele cortou meu cabelo aqui [curto]. Eu chorava, porque eu não queria. Essas etiquetas de como se vestir, como se comportar, sempre existiram”.
“Espero que a situação clareie para muitas mulheres. Estou falando isso exatamente para dizer que demorei muitos anos para descobrir que a Globo exigia tanto desse padrão, dessa estética, que eu adoeci”, contou.
Perto dos 50 anos, a jornalista foi criticada e humilhada pela chefia de figurino da emissora por causa de “flacidez, ruga e gordura fora do lugar”. A questão piorou quando Veruska foi substituída por uma colega mais jovem na apresentação de um projeto de podcast da casa.
Durante o processo de “fritura”, suas participações em telejornais de rede, como Jornal Nacional e Jornal da Globo, foram diminuindo cada vez mais. “Passei a ser repórter mais local. E isso, para a empresa, é um rebaixamento. Para o departamento de jornalismo, tirar você do Jornal Nacional e te botar no SP1 e SP2 é uma forma de te punir por algo que você fez”, contou.
“Eu era boa no que eu fazia, eu estava lá há 20 anos, por que usar dessa política comigo? Ninguém nunca me contou. Eu produzia as pautas do JN e elas não eram aprovadas. O que eu estava fazendo de errado?”, questionou, à época.
“Eu sou feliz aqui no meu canto”, diz a jornalista
Depois de deixar a Globo, Veruska voltou a morar em sua terra natal, Campo Grande (MS), com o marido e a filha, no final de 2021.
Atualmente, atua na assessoria de imprensa da prefeitura local. “Eu sou feliz aqui no meu canto, com o meu marido. A minha filha está fazendo faculdade, terminando administração, e eu levo uma vida muito simples, mas está bom. É a vida que eu gosto. É a vida que eu quero”, revelou.
O que diz a Globo
“A Globo não comenta casos sub judice, mas reitera que a empresa mantém um Código de Ética em linha com as melhores práticas atualmente adotadas, que proíbe terminantemente o assédio e deve ser cumprido por todos os colaboradores, em todas as áreas da empresa. Além disso, também oferece treinamentos constantes para manter um ambiente de trabalho saudável e um sistema de compliance eficiente, que apura criteriosamente todos os relatos que chegam à Ouvidoria, punindo comportamentos contrários ao Código de Ética, inclusive com desligamentos. Nosso sistema de compliance também prevê o apoio integral aos relatantes, proibindo qualquer forma de retaliação em razão das denúncias”.