COMUNICAÇÃO E OPINIÃO PÚBLICA

Maiores anunciantes políticos do Brasil são ultraconservadores, confirma pesquisa

Brasil Paralelo domina conteúdos impulsionados no Facebook e Instagram, segundo levantamento do projeto Brief

Redes sociais da Meta são bombardeadas por conteúdos políticos ultraconservadores.Créditos: Pixabay
Escrito en MÍDIA el

Páginas com viés ultraconservador no Brasil investem significativamente mais em anúncios patrocinados no Facebook e Instagram do que páginas progressistas, de acordo com um levantamento da organização especializada em pesquisa de comunicação digital, Projeto Brief, iniciativa vinculada à Quid. O estudo aponta que, entre 2020 e 2024, os 20 maiores anunciantes conservadores gastaram 3,3 vezes mais do que os progressistas com anúncios políticos.

O valor total investido pelos 100 maiores investidores da Biblioteca da Meta nos últimos 4 anos soma R$ 45,9 milhões, correspondendo a 29,2% do valor total investido nesse período. Em termos de gastos, os conservadores gastaram R$ 33,8 milhões, os progressistas R$ 10,3 milhões e as páginas de centro R$ 1,8 milhão entre os 20 maiores anunciantes.

Para entender a disputa narrativa nas redes, os pesquisadores analisaram anúncios de diversas organizações da sociedade, como produtores de conteúdo, veículos de imprensa e ONGs.

Os dados apresentados evidenciam a intensa atividade publicitária de diversos atores, com destaque para produtores de conteúdo conservador como o Brasil Paralelo e a Revista Oeste, que juntos investiram mais de R$ 30 milhões.

Na outra ponta do espectro político, organizações progressistas como o Greenpeace e o Instituto Conhecimento Liberta também marcaram presença significativa, sendo um dos únicos a alcançar a disputa pela narrativa dos dois produtores de conteúdo ultraliberais, com gasto de R$ 5,9 milhões em conteúdo patrocinado.

As categorias "poder" (que englobam partidos, políticos e governos) e "mercado" (que compreende empresas, associações e canais comerciais) não foram consideradas nesta análise, segundo os autores do projeto. 

MAIORES ANUNCIANTES NA BIBLIOTECA DE ANÚNCIOS DA META 

1º - Brasil Paralelo - R$ 26,6 milhões - 75.391 anúncios 

2º - Revista Oeste - R$ 4,3 milhões - 2.194 anúncios 

3º - Greenpeace Brasil - R$ 4,1 milhões - 5.879 anúncios 

4º - ICL (Instituto Conhecimento Liberta) - R$ 1,8 milhão - 6.109 anúncios 

5º - Ranking dos Políticos - R$ 1,3 milhão - 1.324 anúncios 

6º - Paulo Guedes - R$ 789,7 mil - 212 anúncios 

7º - Vai Lá e Vota - R$ 769,8 mil - 71 anúncios 

8º - Oxfam Brasil - R$ 759,2 mil - 4.106 anúncios 

9º - Safernet Brasil - R$ 754,4 mil - 114 anúncios 

10º - Todos pela Educação - R$ 694,2 mil - 379 anúncios

A Brasil Paralelo, produtora que muitos pesquisadores identificam como praticante de revisionismo histórico, é a maior responsável pelos gastos com conteúdo patrocinado na Meta, segundo o estudo.

Com um total de R$ 26,6 milhões, a empresa ultrapassa todos os outros anunciantes, incluindo a Secretaria de Comunicação Social do governo federal (Secom), que gastou R$ 11,3 milhões e ocupa a segunda posição, e a Ambev, com R$ 10,6 milhões, que fica em terceiro. 

O estudo também revela que a Brasil Paralelo gastou mais do que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que investiu R$ 2,8 milhões em anúncios pagos, liderando a categoria "poder". Segundo o projeto Breif, os R$ 75 mil investidos pela Brasil Paralelo superam amplamente os R$ 52 mil da segunda posição no ranking geral, ocupada pela página Meu Preparatório, voltada para concurseiros. Acesse o estudo completo neste link.

Outro lado

Em resposta à veículos como a Folha de São Paulo, a produtora diz que "sempre rechaçaram qualquer linha extremista, seja ela à direita ou à esquerda", e se baseiam na "defesa ao império da lei, à democracia, à defesa da vida, da propriedade privada e do debate com alas de diferentes entendimentos". Segundo o jornal, a Brasil Paralelo não forneceu respostas diretas, limitando-se a declarar que seu modelo comercial é "orientado por honestidade editorial, satisfação do cliente e um desejo de um Brasil próspero, pacífico, democrático e plural".

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