Faltando pouco menos de um ano para as eleições municipais, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB-SP), começou a utilizar o arsenal de reportagens compradas em jornais da mídia liberal - as chamadas "publis" - para rebater com mentiras os problemas da capital paulista.
Nesta quarta-feira (22), Nunes respondeu a uma reportagem - verídica - do portal G1 que aponta que "cerca de 2,5 milhões de crianças estão fora da creche no Brasil" com uma "publi" praticada pela Folha de S.Paulo que diz que "fila de creche na cidade de SP está zerada há mais de três anos".
Te podría interesar
"A cidade de São Paulo sempre se destaca por seu compromisso com a educação. Pelo terceiro ano consecutivo, zeramos as filas das creches. São mais de 1 milhão de crianças matriculadas em nossa rede. Por meio do Programa Mãe Paulistana-Creche, a vaga do bebê já está garantida desde o ventre da mamãe, olha que bacana", diz o prefeito, que é candidato à reeleição.
Te podría interesar
O que Nunes não diz é que a "reportagem" foi paga para ser publicada na Folha. "Esta página é uma produção do Estúdio Folha para a Prefeitura de São Paulo e não faz parte do conteúdo jornalístico da Folha de S.Paulo", diz um texto ao final da página.
Levantamento exclusivo de Raphael Sanz, da Fórum, mostra que a prefeitura já gastou R$ 81.687.915,96 em contratos publicitários intermediados pelas agências Mworks e Propeg.
As duas agências são as mesmas que fazem a intermediação da gestão Nunes com a Folha, o Estadão, o jornal O Globo, rádios comerciais e jornais de bairro para a divulgação de conteúdos propagandísticos.
Do montante, quase R$ 3 milhões foram destinados à Folha de S.Paulo para publicação de matérias que promovem a gestão do prefeito - como a que foi usada na publicação do Instagram.
Os documentos revelados pelo The Intercept mostram que a gestão Ricardo Nunes gastou dinheiro para "projeto especial, com produção de conteúdo", com "inserção de matérias no digital" e "páginas no impresso" dedicadas à exposição positiva da gestão de Nunes.
Ou seja, não são banners simples, mas conteúdo escrito pela própria gestão Nunes que entra como publicidade disfarçada dentro de um dos jornais de maior circulação e audiência do país.
Mudanças
O Ombudsman da Folha afirma que recomendou mudanças à redação. Não viu conflito de interesse entre uma empresa jornalística fazer propaganda do candidato prestes à reeleição, mas recomendou uma mudança nas sinalizações da peças pagas pela prefeitura Nunes.
"Alertei a Redação de que não havia indicação clara sobre ser um produto patrocinado”, disse o ombudsman José Henrique Mariante. Além disso, ele alega que a matéria do The Intercept Brasil “faz inferências, mas não apresenta nada de concreto além, é claro, da falta de um marcador mais explícito de conteúdo não editorial”.
Após o alerta, a Folha passou a publicar as reportagens compradas nas redes sociais dizendo se tratar de publicidade.