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Folha ajuda prefeito de SP a cometer abuso de poder econômico (com dinheiro público)

Jornal publica anúncios louvando administração Ricardo Nunes, que é candidato à reeleição, disfarçados de reportagens; cadê o TSE?

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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CYNARA MENEZES

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), constitui abuso de poder econômico "a utilização excessiva, antes ou durante a campanha eleitoral, de recursos materiais ou humanos que representem valor econômico, buscando beneficiar candidato, partido ou coligação, afetando assim a normalidade e a legitimidade das eleições". É isso que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), está fazendo ao publicar, com dinheiro público, propaganda eleitoral disfarçada de reportagem na Folha de S.Paulo – e o jornal é cúmplice do abuso.

A denúncia foi feita pelo Intercept Brasil no final de agosto. Segundo dados obtidos pelo site via Lei de Acesso à Informação, a Prefeitura já desembolsou desde o início do ano quase 3 milhões de reais com a publicação de reportagens positivas feitas pelo Estúdio Folha, divisão da Folha que se define como um “ateliê de produção de conteúdo ao mercado e às marcas”. O ombudsman do jornal disse não haver irregularidade nos contratos e que seria "prurido" recusá-los, mas qualquer advogado ou juiz eleitoral será capaz de ver o desequilíbrio em favor de Nunes que a Folha está ajudando a promover.

Não me parece nada coerente que jornais privados, tão defensores da livre iniciativa, da livre competição e da tese de um "Estado mínimo", coloquem sua sobrevivência sob o manto protetor da publicidade governamental. Podemos chamar de "mamata"?

uma batelada de "matérias" a favor do prefeito no site do Estúdio Folha, tudo regiamente pago com dinheiro público, o que não deixa de ser curioso num veículo de comunicação que sempre se gabou de "não ter o rabo preso com ninguém". Além disso, não me parece nada coerente que jornais privados, tão defensores da livre iniciativa, da livre competição e da tese de um "Estado mínimo", coloquem sua sobrevivência sob o manto protetor da publicidade governamental. Podemos chamar de "mamata"?

As "matérias", onde mal se nota a diferença para o conteúdo jornalístico da Folha, tecem loas à administração Nunes. "Compromisso com responsabilidade fiscal garante capacidade de investimento recorde para Prefeitura de São Paulo", diz uma publicidade produzida pelo jornal para Ricardo Nunes em 6 de junho. "Escolas e creches de São Paulo servem 2,3 milhões de refeições por dia", diz o título de outra publi emulando reportagem do jornal, com mesmo visual e tudo, no dia 23 de junho. Uma das mais recentes: "Prefeitura de São Paulo inaugura 10ª UPA em 2 anos; unidade da zona leste vai beneficiar 300 mil pessoas". Pura propaganda.

Imaginem se um site de esquerda recebesse dinheiro do governo federal para fazer propaganda disfarçada de matéria jornalística em seu "estúdio" de produção de material chapa branca... Já fomos chamados de "blogs sujos" sem nunca termos feito nada disso, e com a ativa colaboração da Folha, que ajudou a difundir em suas páginas, durante anos a fio, o apelido criado por José Serra. Talvez esteja na hora de o jornal assumir que tem lado, e que recebe dinheiro público para ter lado.

Imaginem se um site de esquerda recebesse dinheiro do governo federal para fazer propaganda disfarçada de matéria jornalística em seu “estúdio” de produção de material chapa branca… Já fomos chamados de “blogs sujos” sem nunca termos feito nada disso

As "matérias pagas" do prefeito Ricardo Nunes estão contaminando os próprios conteúdos jornalísticos da Folha: a manchete da pesquisa Datafolha sobre a privatização dos parques no último domingo é escandalosa. Simplesmente chamaram a pesquisa por um lado em que o prefeito fica bem na foto (Quase um terço dos paulistanos aprova concessão de parques municipais), quando a notícia era completamente oposta: a maioria dos paulistanos (53%) acha que a privatização não trouxe melhoras aos parques ou piorou.

O ombudsman pode achar "normal" que um jornal favoreça um pré-candidato à reeleição com anúncios disfarçados de reportagens pagos com dinheiro dos cidadãos, mas os demais pré-candidatos à Prefeitura podem e devem agir. Em junho, a imprensa noticiou que o Ministério Público investiga a Prefeitura por turbinar em 40 milhões de reais sua publicidade governamental em ano pré-eleitoral. Ou seja, Ricardo Nunes está usando descaradamente o dinheiro público para sair na frente dos adversários, que não têm o cofre da cidade mais rica do país em mãos para competir de igual para igual.

É abuso de poder econômico, sim, e a Folha também deveria ser processada por ajudar o prefeito nisso. Resta saber se algum candidato terá coragem de acionar a Justiça Eleitoral contra o jornal – e comprar uma briga com um veículo de comunicação poderoso e cada vez com o rabo menos preso com o leitor.