Andreza Matais, editora-executiva do Estadão, passou o dia praguejando nas redes sociais depois que uma matéria publicada no seu jornal sobre o presidente Lula (PT) ter coordenado um empréstimo bilionário para a Argentina foi desmentida. Revoltada com a acusação de ter divulgado fake news, ela chegou a expor o salário de George Marques, assessor da Secretaria de Comunicação Institucional da presidência, ao comentar postagem em que o servidor publica as informações que corrigem a barrigada da sua equipe.
“Atenção! A decisão de empréstimo de 1 bilhão de dólares do CAF à Argentina foi tomada pela diretoria do banco, composta por países membros, e não teve interferência do presidente Lula. Verifique os fatos e espalhe a verdade”, escreveu o servidor no X.
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Matais comentou: “11.306,90”, o salário do assessor. Revoltado, George questionou: “O que significa isso?”
Mas recebeu o silêncio da editora-executiva. Foi respondido por um internauta bem-humorado: “que tu mereces um aumento, parabéns pelo trabalho”.
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"O que ocorreu não passou de insistência na falta de profissionalismo. Um jornal supõe uma ligação do presidente para uma ministra acerca de uma medida que já havia sido tomada um mês antes. Elucidamos o equívoco sem recorrermos à censura ou descreditar o meio. Essa revelação do meu salário é só um expediente vulgar. O ato falho da jornalista, que pressupõe que qualquer pessoa possa trabalhar assessorando instituições e personalidades, revela sua filosofia de trabalho", declarou George Marques em nota enviada à Revista Fórum.
Em outro comentário, a editora-executiva de um dos maiores jornais do país explica a lógica da exposição do assessor: “Jornalismo é isento, assessoria ganha para defender o cliente”. Ela claramente está em um movimento de defender sua equipe e a matéria que foi publicada, atacando quem corrigiu o trabalho e trouxe o dado verdadeiro.
"Quando questionada por mim numa rede social, a diretora de redação primeiro subestimou a própria função de assessoria de imprensa antes de expor meu salário. Essa prepotência de uma chefia de redação perante os colegas assessores é a demonstração máxima da falta de profissionalismo desse episódio," avaliou Marques.
Curiosamente, a 'isenção jornalística' de Andreza Matais - que em sua biografia no X esbanja a credencial “Prêmio Esso” e os slogans autocongratulatórios “notícia é o que me move” e “exclusivo é minha palavra preferida” – comemorou a repercussão que a notícia teve no país vizinho; da redação do Estadão diretamente para a boca de Javier Milei, o candidato de extrema direita.
"No final das contas, as matérias do jornal Estado de São Paulo de hoje só repercutiram as ilações que o candidato Milei ao presidente Lula. Os esforços do Brasil e dos outros outros países latino-americanos e caribenhos em dar apoio financeiro à Argentina favorece qualquer um dos ganhadores do pleito presidencial de nosso país parceiro. A insistência nos ataques do candidato conservador na disputa é mera posição identitária na disputa eleitoral. Assim como o Estadão escolhe se pautar por isso é simples escolha editorial. Até aí, teríamos apenas mais um dia em que o governo teve que lidar com a imprensa. Mas quando a jornalista menospreza assessores e me expõe, temos uma demonstração do quão baixo essa profissional está disposta a rebaixar seu próprio trabalho, a empresa onde atua. Por que a insistência no erro?", questiona.
Para Marques, a fonte da informação falsa não é sequer brasileira, mas trata-se do 'gabinete do ódio argentino' interpretando uma visita de Sérgio Massa, o adversário de Milei, ao Brasil em agosto.
"A razão da insistência no erro tem origem na imaginação política dos militantes de Milei. Vidrados na agenda do concorrente, tentaram imprimir um fato e não se atentaram às agendas diferentes. E assim, o que seria um desleixo primário para um jornalista - falta de checagem - acabou virando pauta no jornal. A birra do Estadão pelo erro é apenas o negacionismo típico do fascismo", finalizou.
A notícia desmentida
A Secretaria de Especial de Comunicação da Presidência da República (Secom) divulgou, nesta quarta-feira (4), uma nota em que desmente uma reportagem do jornal O Estado de São Paulo, assinada por Vera Rosa, sobre um empréstimo à Argentina. Segundo a matéria, o presidente Lula teria atuado diretamente para emprestar US$ 1 bilhão ao país vizinho com o objetivo de ajudar o ministro da Economia e candidato peronista à presidência, Sergio Massa, e impedir a vitória do extremista de direita Javier Milei.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, também desmentiu o conteúdo da matéria do Estadão em entrevista à CNN Brasil. Isso porque a reportagem do jornal paulista afirma que a ministra teria recebido um telefonema de Lula no qual o presidente teria pedido para que ela liberasse o empréstimo à Argentina através da Comunidade Andina de Fomento (CAF), também conhecida como Banco de Desenvolvimento da América Latina. Tebet é a governadora brasileira no banco multilateral.
“Lula não me ligou (...) Despachei com minha secretária de assuntos internacionais, que disse que os demais países votariam a favor", disse Tebet.
A ministra se refere à votação feita pelos países membros do CAF com relação a um empréstimo solicitado pela Argentina no valor de US$ 1 bilhão para suprir sua escassez de reservas. Segundo o Estadão, Lula teria atuado diretamente para conceder o empréstimo à Argentina, mas isso não é verdade. A liberação do valor foi aprovada em 28 de julho pelos países que compõem o banco com 19 votos dos 21 possíveis.
"Diferentemente do que vem sendo repercutido, o empréstimo de 1 bilhão de dólares feito pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF) não teve intervenção do Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Também ao contrário do informado, o Chefe de Estado brasileiro não conversou sobre o empréstimo com a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet", diz um trecho da nota da Secom.
O governo brasileiro explica que a Argentina apresentou o pedido de empréstimo-ponte à instituição financeira, que por sua vez convocou os países acionistas do banco para apreciar o pedido em julho de 2023.
"O Brasil possui 8,8% do capital da instituição e é seu quarto maior acionista, atrás de Colômbia, Peru e Argentina. O CAF é um banco multilateral de desenvolvimento, hoje com uma carteira ativa de mais de US$ 4 bilhões de empréstimos para o Brasil. A decisão pelo empréstimo do CAF à Argentina foi aprovada em 28 de julho pela diretoria do banco formado pelos países membros. O empréstimo foi aprovado com 19 votos dos 21 possíveis. O Brasil possui um voto, enquanto outros cinco países (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela) possuem dois votos", prossegue o comunicado do Palácio do Planalto.
Além do empréstimo à Argentina não depender exclusivamente do governo brasileiro, o país vizinho já quitou totalmente a dívida com o banco multilateral, em 25 de agosto - 5 dias antes do previsto.