Grupo hospitalar do Amazonas pediu prisão de Alan Gripp e Malu Gaspar, do jornal O Globo

O juiz Manuel Amaro de Lima negou a prisão do diretor de redação do jornal e da jornalista, que publicou reportagens associando o grupo Samel à proxalutamida, que que chegou a ser defendida por Bolsonaro contra a Covid-19.

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O grupo Samel, que controla diversos hospitais no Amazonas, entrou com uma série de processos contra a Editora Globo e o jornal O Globo por causa da publicação de reportagens revelando indícios de fraude e violações éticas em um ensaio clínico com a droga proxalutamida em doentes de covid-19, realizado em unidades da empresa.

Em uma das ações, que são capitaneadas pelo dono, Luis Alberto Samel, o grupo Samel pede a prisão do diretor de redação do jornal O Globo, Alan Gripp, e da jornalista Malu Gaspar, que assina as reportagens.

A 3ª Vara Cível e de Acidentes de Trabalho de Manaus determinou na última quarta-feira o bloqueio de R$ 1,8 milhão da Editora Globo, mas negou o pedido de prisão dos dois jornalistas.

O juiz Manuel Amaro de Lima alegou descumprimento de decisão judicial para pedir o bloqueio do dinheiro, além de determinar a republicação de direito de resposta concedido à Samel em outubro, sob pena de multa diária de R$ 100 mil.

O Globo republicou o direito de resposta, mas afirma que vai recorrer da decisão. Esta é a quarta medida obtida pelo grupo hospitalar contra a Globo.

Em agosto, o juiz Amaro de Lima determinou a retirada de três reportagens sobre o caso do site do jornal. Depois, em outubro, o mesmo juiz determinou a retirada de todas as matérias sobre as suspeitas entorno da proxalutamida e a publicação de um direito de resposta no site do jornal.

O Globo também foi obrigado a apagar os textos e proibido de qualquer outro material que associasse o nome ou trouxesse fotos relativas à rede de saúde privada à proxalutamida.

A Associação Nacional de Jornais (ANJ), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) classificaram os processo e as decisões judiciais como "censura".

"Nova cloroquina"

A publicação das reportagens levou à abertura de investigações pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CNEP, vinculada ao Ministério da Saúde), pelo Ministério Público Federal do Distrito Federal e pelo Ministério Público Federal do Amazonas.

Em julho, após internação por progemas gastrointestinais, Jair Bolsonaro (PL) anunciou a proxalutamida como uma espécie de "nova cloroquina" e disse que discutiria a aplicação do medicamento com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

“Minha mãe tem 94 anos. Se ficasse doente, eu autorizaria o tratamento dela com proxalutamida”, disse Bolsonaro a jornalistas, em referência a um medicamento geralmente usado no tratamento de cânceres.