IMPRENSA

Jânio de Freitas, o mais importante colunista do Brasil, é demitido pela Folha aos 90 anos

Veículo também dispensou Gregório Duvivier; casos repercutem nas redes

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Mais importante colunista do Brasil e atuante no jornalismo desde 1955, Jânio de Freitas foi demitido da Folha de S. Paulo nesta quinta (15) após mais de 40 anos de trabalhos prestados ao veículo, gerando reação nas redes sociais. Nascido em junho de 1932, o agora ex-colunista da Folha tem 90 anos e fez história no jornalismo brasileiro.

"90 anos, 42 anos de Folha de S. Paulo. O mais brilhante, melhor jornalista político do Brasil (redução, eu sei, pq muito além da política, mas só pra situar) o imprescindível Janio de Freitas foi demitido hoje pela Folha. Qual o motivo?", escreveu Bob Fernandes. O jornalista também lamentou a saída de Gregório Duvivier, considerando as duas demissões como algo "incompreensível", para em seguida questionar: "Ou seria revelador de novos rumos?". 

Imagem: Reprodução / Twitter

Luto na imprensa

José Trajano decretou "Luto na imprensa" pela demissão. Laurindo Leal Filho, o Lalo, que é jornalista e professor da USP, afirmou que o jornalismo empresarial não poderia terminar o ano "sem nova vítima". Para ele, a demissão de Jânio de Freitas representa uma redução da liberdade de imprensa "sufocada pela concentração dos meios de comunicação". Já Luis Nassif escreveu que Freitas "nunca tergiversou, nem se valeu de lisonja" e considera que a Folha "perde sua última grande referência".


Imagens: Reprodução / Twitter

Liberdade de expressão

No mundo político, um dos primeiros a se pronunciar foi o deputado federal Alencar Santana (PT-SP). "A demissão do maior jornalista brasileiro vivo pela @folha é mais uma amostra de que o discurso de liberdade de expressão e pluralidade é só mais uma entre as tantas mentiras dos "liberais" brasileiros. Salve, Jânio de Freitas! Ler seus textos é sempre prazeroso e educativo", escreveu o parlamentar.

Imagem: Reprodução / Twitter

Jânio de Freitas

Ganhador da principal premiação no país, o prêmio Esso, Jânio Sérgio de Freitas Cunha fez história no jornalismo brasileiro. Integrou a equipe que renovou a revista Manchete na década de 1950, e lá atuou como repórter, fotógrafo, diagramador e redator-chefe. A partir de 1959 participou da reforma do Jornal do Brasil. Na década de 1960 atuou no Correio da Manhã e assumiu a direção-geral da Última Hora, do Rio de Janeiro, definido por seu próprio fundador, Samuel Weiner, como um "jornal de oposição à classe dirigente e a favor de um governo", o de Getúlio Vargas.

Após tentar montar uma revista semanal e trabalhar no Jornal dos Sports, o jornalista ingressou na Folha de S. Paulo em 1980, e em 1983 começou a publicar a coluna política que manteve até esta semana. Compunha também o conselho editorial do jornal, onde analisava as questões políticas e econômicas do país.

Marcha sinistra

Freitas também foi agraciado com premiações voltadas a defensores de direitos humanos. Em carta direcionada ao ato "Ditadura Nunca Mais" em setembro de 2019, escreveu que "a ameaça que paira sobre o Brasil é aguda" e completou: "é preciso e urgente nos dirigirmos às consciências embotadas, uma a uma, em toda parte, para alertá-las sobre o que se passa a cada dia. Sobre a importância destrutiva dessa marcha sinistra sobre as suas vidas, sobre o futuro em que viverão seus filhos e netos. É preciso despertar o sentimento democrático hoje refugiado na perplexidade ou no desânimo". Aliás, sua postura progressista tende a ser o motivo da sua demissão, ocorrida pouco depois das eleições presidenciais que consagraram a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Chama a atenção que outro colunista, de postura identificada com a esquerda, tenha sido dispensado nesta semana, o humorista Gregório Duvivier. Afinal, conforme uma das famosas citações de Jânio, "os meios de comunicação brasileiros nunca deixaram de ser parte ativa nos esforços de conduzir o eleitorado".