Juiz censura O Globo por reportagem sobre remédio sem eficácia contra Covid

"O Globo está recorrendo da decisão, por considerar que a censura é inconstitucional", afirma o veículo

Fábio Pozzebom/Agência Brasil
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O jornal O Globo foi alvo de censura por meio de decisão judicial do magistrado Manuel Amaro de Lima, da 3ª Vara Cível e de Acidentes de Trabalho do Amazonas. O veículo foi obrigado a remover uma série de reportagens sobre as suspeitas de falhas graves e possíveis fraudes em estudo sobre a proxalutamida, a "nova cloroquina" do bolsonarismo.

Segundo O Globo, a decisão determinou a remoção do conteúdo e ainda proibiu o jornal de publicar qualquer coisa sobre o assunto. Caso o veículo não cumpra, pode ser multado.

Essa decisão, segundo o jornal, atende a um pedido do diretor da rede Samel, Luis Alberto Saldanha Nicolau. Nicolau foi um dos patrocinadores dos estudos que possuem indícios de fraude.

"O GLOBO está recorrendo da decisão, por considerar que a censura é inconstitucional. O jornal sustenta que o conteúdo das reportagens, além de acurado, é de interesse público. A defesa argumenta ainda que a decisão de impedir a sua circulação e proibir a divulgação de novas informações a respeito do tema  interdita o debate a respeito da controversa eficácia da proxalutamida no tratamento da COVID-19", afirma o veículo.

O material, investigado pelo jornalista Johanns Eller a partir de documentos públicos, foi publicado no blog da Malu Gaspar. O link foi retirado.

Contróversias nos dados da proxalutamida

Apresentação feita pela própria Samel difundiu o dado de que dos 590 voluntários, 294 receberam a proxalutamida e 296, um placebo. Teriam ocorrido 12 mortes entre os que tomaram o remédio e 141 óbitos entre os que não tomaram - uma eficácia impressionante de 92%.

Especialistas consultados na reportagem censurada apontaram, no entanto, que a taxa de mortalidade de 47,5% é muito alta e defendem que o estudo seja interrompido. “Com essa taxa de eficácia, com 40 participantes eu já teria 10 mortes no grupo placebo e apenas uma entre os pacientes que tomaram o remédio. Então para que continuar até os quase 600 voluntários e esperar que morressem quase 150 pessoas?”, questionou Mauro Schechter, infectologista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Além disso, outra suspeita em relação ao estudo foi o tempo curto de coleta de dados. Os dados dos voluntários foram coletados entre 2 de fevereiro e 22 de março, prazo rápido para uma pesquisa do tipo.