Ex-diretora da Folha acusa irmão de aumentar rendimentos enquanto cortou salários no jornal

Maria Cristina Frias acusa Luiz Frias de "autoconceder aumento de remuneração de até 3 milhões"

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Após ser autorizada a criar um conselho fiscal para apurar e detalhar as contas do Grupo Folha, a acionista Maria Cristina Frias de Oliveira (ex-diretora de redação da Folha de São Paulo) apresentou ação judicial no início de julho com o objetivo de suspender demonstrativos financeiros da empresa e afastar a atual administradora do grupo, Judith Brito.

No agravo, que a Fórum teve acesso, Maria Cristina acusa o irmão, Luiz Frias, e Brito de "autoconceder aumento de remuneração de até 3 milhões". Isso foi feito mesmo diante da redução de salários de jornalistas promovida na Folha durante a pandemia de Covid-19.

Segundo a acionista - que é minoritária -, Brito obstruiu acesso a informações à deliberação sobre remuneração dos administradores em reunião convocada para esse fim". Nessa reunião, os diretores teriam adotado medidas para "mais que duplicar suas remunerações diretas, para além das indiretas por eles omitidas".

Nesse ponto, Maria Cristina expõe a contradição dos controladores do grupo. O aumento na acumulação dos diretores teria sido feito enquanto jornalistas da Folha tinham salários recortados. Essa prática a acionista afirma demonstrar "requintes de crueldade".

"A administração decidiu se valer de Medida Provisória editada pelo Governo Federal no contexto da pandemia (cf. doc. 09) para cortar 25% dos salários dos jornalistas(!). Os diretores, porém, não apenas mantiveram sua remuneração integral, como ainda premiaram a si próprios com aumento em sua remuneração variável, com base em “metas” vagas e sem transparência — o diretor Sérgio Dávila, v.g., recebeu um incremento de 39% do que costumava ser a remuneração variável do diretor de Redação", diz trecho da ação.

Frias no comando

Essa artimanha teria sido acompanhada de a criação de um novo cargo para que Luiz Frias continuasse no comando da Folha, mesmo fora da presidência.

"Após reiterados questionamentos, Judith Brito confessou ter criado — sem deliberação ou consulta prévia aos acionistas, como exige o acordo de sócios — o cargo de publisher (com remuneração próxima da dos
diretores estatutários) para que Luis Frias continue à frente da gestão (que nunca deixou, de fato) e sendo regiamente remunerado - enquanto jornalistas da Folha de S.Paulo são sacrificados -, mas possa tentar fraudar as regras de impedimento de voto da LSA (arts. 134, §1º c/c 133)", destaca o agravo.