O jornal Folha de S. Paulo, que vez ou outra, em editoriais, critica o "autoritarismo" e o "extremismo" de Jair Bolsonaro e bolsonaristas, resolveu neste sábado (8) dar espaço para o extremista Bernardo Küster, através de uma entrevista, e se referiu a ele como um "ativista".
"Ativista conservador e um dos mais influentes apoiadores de Jair Bolsonaro nas redes sociais, o jornalista e empresário Bernardo Küster, 33, diz que as manifestações ocorridas em 1º de maio mostraram que a população vê o presidente como garantidor da liberdade", diz a abertura da matéria, que leva o termo "ativista" para se referir a ele também no título.
Disseminador da fake news e alvo do inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) que apura a divulgação de notícias falsas, o youtuber bolsonarista é seguidor de Olavo de Carvalho, prega ideias da extrema-direita e já chegou, inclusive, a pedir para que as pessoas "levem a sério" as discussões sobre a teoria da Terra "plana".
Na própria entrevista à Folha, Küster mostrou seu extremismo flertando com o golpismo ao sugerir que as Forças Armadas podem intervir caso seja aberto um processo de impeachment contra Bolsonaro. "Se –eu disse se– isto vier a acontecer, eu aposto um de meus dois rins que veríamos manifestações populares espontâneas gigantescas e, possivelmente, até uma reação perigosa das Forças Armadas, caso não houvesse fundamento para tal", disparou.
O fato do jornal paulista usar o termo "ativista" para se referir ao youtuber bolsonarista revoltou usuários das redes sociais, que comentaram em tom crítico a postagem de divulgação. "Esse cara não é ativista é extremista. Se a Folha fosse séria falaria a verdade", escreveu um internauta.
O teólogo Leonardo Boff, que ganhou um processo contra Küster por divulgação de fake news e incitação ao ódio, também questionou o periódico por conta da entrevista. "Esse senhor Küster é mestre em fake news e calúnias. Por esta razão está na lista dos indiciados pelo STF. Perdeu um processo que lhe fiz mas afronta a justiça e não publica a minha resposta às calúnias que continua a insinuá-las. É católico tradicionalista mas nunca será cristão", escreveu Boff.
A prática da Folha em não chamar as pessoas pelo termo correto não é nova. Em 2018, por exemplo, durante as eleições, o jornal proibiu seus jornalistas de usarem "extrema-direita" para se referir a Jair Bolsonaro, conforme revelou a Fórum à época. "Não há, na atual disputa eleitoral brasileira, nenhuma candidatura que se enquadre nessa categoria. Jair Bolsonaro, do PSL, deve ser tratado como candidato de direita", dizia o comunicado interno encaminhado aos profissionais da redação, apesar de, já à época, o atual presidente ter dado declarações extremistas como aquela quando sugeriu "fuzilar a petralhada", pregando violência.
O fato foi lembrado pelo perfil Jornalismo Wando, do cientista social e jornalista João Filho. "A @Folha é inacreditável. Durante a eleição, orientou seus jornalistas a não chamarem Bolsonaro de extremista de direita. Agora, chama Bernarda Kuster, um extremista de direita disseminador de fake news de “ativista” Que jornalismo de merda", diz a postagem, que traz ainda uma compilação de falas extremistas e notícias falsas divulgadas por Küster.
Confira.