A revista lavajatista Crusoé publicou, nesta sexta-feira (7), uma longa entrevista de capa onde o procurador da República, Deltan Dallagnol, se vitimiza e diz que passa a maior parte do seu tempo “respondendo a reclamações disciplinares”. Em momento algum, no entanto, a revista pergunta sobre o conteúdo das gravações reveladas pelo hacker Walter Delgatti Neto, que mostram diversos diálogos que revelam conluios entre o ex-juiz Sérgio Moro, que era então o responsável pela operação, e os procuradores liderados por Dallagnol.
Tanto a Crusoé quanto o procurador agem como se elas não existissem. Mesmo que as gravações não possam vir a ser usadas na Justiça por terem sido obtidas de maneira ilegal, elas deixam claro que havia sim um arranjo entre todos os envolvidos para prender o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a qualquer preço. Um arranjo, diga-se de passagem, ilegal.
Qualquer estagiário de jornalismo que fosse encarregado de entrevistar Dallagnol perguntaria sobre os diálogos que, se não podem existir de direito, existem de fato, e foram fundamentais para a fratura que sofreu a operação Lava Jato perante a opinião pública.
Ao contrário disso, entrevistador e entrevistado seguem em colaboração mútua para produzir um ramerrão de lamúrias que, em momento algum, sequer resvalam na possibilidade de juiz e procuradores terem cometido ilegalidade.
Dallagnol afirma com grande desfaçatez que “réus e condenados, como o ex-presidente Lula, agora se aproveitam do processo de esfacelamento da Lava Jato para posar como perseguidos e injustiçados”.
Com relação à declaração pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de suspeição do ex-juiz Sérgio Moro ter sido uma das muitas derrotas da Lava Jato, Dallagnol cria uma frase de efeito e afirma que as “derrotas” não são da Lava Jato, mas da sociedade brasileira.
Não há uma linha sequer da sonolenta entrevista que tenha um mínimo de utilidade para a opinião pública a não ser pregar a convertidos. Se Lula é culpado ou não, que um julgamento imparcial decida isto daqui pra frente.
O que não se pode é fingir que Dallagnol, Moro e seus asseclas não agiram para muito além dos limites da Justiça.