A TV Cultura, emissora pública da Fundação Padre Anchieta sediada em São Paulo, fechou um contrato de R$ 8 milhões com uma empresa chamada Blend Negócios, Divulgação e Editoração Ltda. para veicular por cinco anos o programa Manhattan Connection, que tem como um de seus âncoras o jornalista Diogo Mainardi. Antes, o programa passava na TV Globo.
O contrato está disponível de forma pública no site de editais da Fundação Padre Anchieta. O valor, no entanto, não é o que mais chama atenção no documento.
A Blend, empresa que consta como licenciada, foi criada apenas um dia antes do negócio entre as duas partes ser assinado, em 28 de dezembro de 2020. O acordo com a FPA foi assinado em 29 de dezembro.
Além disso, o nome de Gilberto da Silva consta como único sócio da empresa. As informações de contato do empresário remetem a uma outra empresa, a Global Council of Sales Marketing (GCSM), que pertence ao Grupo Innsbruck.
O site da GCSM informa que a empresa é uma entidade de caráter institucional que sugere nomes das empresas e empresários para concorrer a prêmios que concede. Gilberto da Silva é membro do conselho editorial de uma das revistas produzida pela empresa para divulgar os eventos realizados pelo GCSM.
A ligação de Gilberto com a GCSM é confirmada pelo próprio empresário em seu perfil no Linkedin. Na rede social, ele diz ser diretor de desenvolvimento de negócios no Grupo Innsbruck.
Gilberto, no entanto, não é o único nome que liga a GCSM à TV Cultura. O próprio presidente da Fundação Padre Anchieta, José Roberto Maluf, é citado como primeiro vice-presidente da empresa.
Além disso, a revista The Winners, produzida pela GCSM, recebe propaganda da emissora pública. Na edição que leva a imagem do advogado Luiz Flávio Borges d'Urso na capa, há propaganda do Manhattan Connection logo nas primeiras páginas.
Em nota, a TV Cultura informou que a Blend detém os direitos de produção e de exploração do Manhattan Connection, assumindo total e integral responsabilidade e custos pela produção do programa, inclusive a remuneração de todos os seus participantes.
"A remuneração da Blend para a disponibilização do conteúdo do programa ocorre exclusivamente pela participação no resultado financeiro mensal que for obtido com comercialização das quotas de patrocínio na exibição", afirma a emissora em nota.
Mainardi
Em artigo publicado no portal Antagonista, Diogo Mainardi também confirmou o contrato milionário entre a Blend e a TV Cultura. Segundo ele, o Manhattan Connection é financiado por patrocinadores privados que são captados pela Blend, que depositam o dinheiro na TV Cultura. Parte dessa verba é repassada à Blend.
"O Antagonista, claro, não tem nada a ver com o Manhattan Connection, exceto por mim, que sou sócio do site e recebo um salário da Blend por meu trabalho no programa de TV, que iniciou em 2003", afirma o jornalista.