Ombudsman da Folha diz que anúncio de médicos ‘cloroquiners’ não é ilegal, mas é antiético

“Além do mais”, lembra ainda a ombudsman, “ter um conteúdo como esse publicado em alguns dos maiores jornais do país confere ao texto uma credibilidade que ele não tem”

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A ombudsman da Folha, Flavia Lima, criticou em sua coluna deste domingo (28), o fato do jornal ter publicado o anúncio "Manifesto pela vida", que ocupou meia página da Folha e de pelo menos outros sete jornais durante esta semana.

De acordo com ela, a publicação do anúncio assinado pelo grupo autointitulado Médicos pela Vida, que defende o tratamento precoce – nome fantasia dado ao uso de medicamentos sem comprovação científica ou de ineficácia cientificamente comprovada contra a Covid-19 – não é ilegal, “mas pode ser antiético e contraproducente, uma vez que abala a confiança que o leitor deposita no trabalho da Redação”.

“Além do mais”, lembra ainda a ombudsman, “ter um conteúdo como esse publicado em alguns dos maiores jornais do país confere ao texto uma credibilidade que ele não tem”.

Ela diz ainda que “a própria Folha publicou inúmeras reportagens sobre os riscos envolvendo o chamado "tratamento precoce", além de textos sobre a própria associação —o primeiro deles em maio de 2020.

“É desanimador, como disse uma leitora, combater desinformação na página par e disseminá-la na ímpar”, diz.

Ao final, a ombudsman afirma que “no jornalismo, a divisão entre ‘Igreja e Estado’ (comercial e redação) é condição essencial para a liberdade de informar, mas critérios editoriais devem guiar as duas áreas. Do contrário, a credibilidade do jornal pode ser atingida, colocando em risco o próprio negócio. O anúncio existe para viabilizar o jornal, e não o contrário”.