Em artigo publicado em espanhol no site do El País nesta terça-feira (5), a jornalista, escritora e documentarista brasileira Eliane Brum afirma que sem garantir vacinas, Jair Bolsonaro (Sem Partido) manipula a "mente doente" de seus seguidores e cita um conceito criado pelo sociólogo e ativista negro William Edward Burghardt, conhecido como W.E. B. Du Bois, para explicar a estratégia racista e preconceituosa do presidente para incitar seus apoiadores.
"Alguns acreditam que, com o fim da renda emergencial recebida por milhões de pessoas, a popularidade do Bolsonaro cairá. É provavel. Mas apenas em parte. Muitos o escolheram para garantir outro salário: o psicológico. Em 1935, W. E. B. Du Bois criou essa expressão para explicar a função do racismo, que dá à prostituta branca o sentimento de superioridade porque alguém, o negro, está em pior situação do que ele. A persistência de Bolsonaro, Trump e outros pode ser explicada com este conceito estendido a mulheres e homossexuais. Para que o salário psicológico surta efeito, deve-se continuar subjugando o outro, especialmente numa época em que os habituais subjugados protestam como nunca", diz a jornalista.
Eliane Brum cita como exemplo dessa estratégia o ataque de Bolsonaro à Dilma Rousseff, quando colocou em xeque que a ex-presidente foi torturada durante a ditadura militar.
"Duvidando publicamente que a ex-presidente tenha sofrido tortura durante a ditadura, ele a torturou mais uma vez. O Bolsonaro calcula e cria novidades para manter o valor de venda do salário psicológico".
A jornalista ainda lista as patéticas cenas protagonizadas por Jair Bolsonaro junto a seguidores durante as férias no Guarujá - classificas por ela como "show machista".
"Jair Bolsonaro começou 2021 com uma espécie de show machista. A bordo de um barco, ele se aproximou de uma praia onde centenas de banhistas se aglomeravam, pulou no mar e nadou no meio da multidão. Ele passou pela massa de pessoas como se fosse ungido, animado por gritos de 'Mito! Mito!' A cena horrorizou o mundo em transes pandêmicos. Mas se as eleições fossem hoje, o presidente brasileiro teria chance de vencê-las. O Bolsonaro não trabalha com eleitores, mas com partidários que votam. Produza imagens para eles. Sua ação para espalhar o covid-19 e destruir a Amazônia o tornou um pária para o mundo. No entanto, para aqueles que o chamam de 'mito', ele estabeleceu uma associação muito eficaz: apenas os fracos morrem de covid-19. Fracos como, por exemplo, homossexuais, mulheres e negros. Para os 'homens', é apenas uma 'gripezinha'", escreve Eliane Brum.