Uma carta assinada pelo general Richard Fernandes Nunes, chefe do centro de Comunicação Social do Exército, enviada nesta segunda-feira (18) à redação da Revista Época pede "imediata e explícita retratação" por um artigo em que o jornalista e escritor Luiz Fernando Vianna diz que "na pandemia, Exército volta a matar brasileiros".
"O Exército Brasileiro exige imediata e explícita retratação dessa publicação, de modo a que a Revista Época afaste qualquer desconfiança de cumplicidade com a conduta repugnante do autor e de haver-se transformado em mero panfleto tendencioso e inconsequente", diz trecho da carta assinada pelo general revelado no Twitter pelo jornalista Bernardo Cotrim.
A revista, que pertence ao grupo Globo, já publicou trecho do comunicado - que diz que "durante a pandemia, o Exército, junto às demais Forças Armadas e a diversas agências, tem-se empenhado exatamente em preservar vidas" - na versão online e prometeu publicar a íntegra na edição impressa, que chega às bancas no próximo final de semana.
Lambuzar da política
No artigo, Vianna afirma que "em vários momentos da nossa história, o Exército brasileiro se pôs a matar a população em grande quantidade", citando como exemplo a Revolta de Canudos, em 1897, e a Ditadura Militar.
Para o escritor, com a redemocratização, por um tempo, o Exército se adequou a seu papel constitucional, mas voltou a atuar politicamente quando "um general, Eduardo Villas Bôas", pressionou "o Supremo Tribunal Federal para que não se tomasse uma decisão em favor do ex-presidente Lula".
"No governo de Jair Bolsonaro, o Exército voltou a se lambuzar de política", diz o artigo, sobre o aparelhamento do governo com militares.
"No momento, o Exército participa de um massacre. Um general, Eduardo Pazuello, aceitou ser ministro da Saúde mesmo, como admitiu, sem saber o que é o SUS (Sistema Unificado de Saúde). Suas credenciais eram as de um craque da logística. Ele pode ser bom em distribuir fardas e coturnos, mas, como estamos vendo, não sabe salvar vidas", complementa Vianna, ressaltando que Pazuello continua defendendo o uso de remédios - como a cloroquina - sem comprovação científica contra a Covid-19.
Segundo Vianna, Pazuello, no entanto, não é "caso isolado".
"A tragédia do Amazonas reforça o que não é novidade, mas ainda assim é terrível: temos um governo que atua para que um número cada vez maior de brasileiros morra. Não é acidente, é projeto. Em cada mil brasileiros, um já morreu de Covid-19", diz o texto, que cita ainda que "os generais de Brasília (Mourão, Augusto Heleno, Braga Netto, Azevedo e Silva) pouco fazem além de inscrever seus nomes na história como operadores de um morticínio".
Leia abaixo a carta do general à Época e o aqui o artigo na íntegra
Brasília-DF, 18 de janeiro de 2021.
Senhora Ana Clara Costa,
Editora-Chefe da Revista Época
Incumbiu-me o Senhor Comandante do Exército Brasileiro de expressar indignação e o mais veemente repúdio ao texto de autoria de Luiz Fernando Vianna, publicado nesse veículo de imprensa em 17 de janeiro de 2021.
A argumentação apresentada pelo articulista revela ignorância histórica e irresponsabilidade, não compatíveis com o exercício da atividade jornalística. Atribuir a morte de brasileiros a uma Instituição de Estado, cuja história se confunde com a da própria Nação, nas lutas pela manutenção de sua integridade, caracteriza comportamento leviano e possivelmente criminoso.
Afirmações dessa natureza, motivadas por sentimento de ódio e pelo desprezo pelos fatos, além de temerárias, atentam contra a própria liberdade de imprensa, um dos esteios da democracia, pela qual o Exército combateu nos campos de batalha da II Guerra Mundial e por cuja preservação tem se notabilizado em missões de paz em todos os continentes.
Cabe ressaltar que, durante a pandemia, o Exército, junto às demais Forças Armadas e a diversas agências, tem-se empenhado exatamente em preservar vidas.
Para isso, vem empregando seus homens e mulheres por todo o território nacional, particularmente em áreas inóspitas, onde se constitui na única presença do Estado, realizando atendimentos médicos, aumentando estoques de sangue por meio de milhares de doações, transportando e entregando medicamentos e equipamentos, montando instalações, desinfetando áreas públicas, enfim, estendendo a Mão Amiga a uma sociedade que lhe atribui os mais altos índices de credibilidade.
Por fim, o Exército Brasileiro exige imediata e explícita retratação dessa publicação, de modo a que a Revista Época afaste qualquer desconfiança de cumplicidade com a conduta repugnante do autor e de haver-se transformado em mero panfleto tendencioso e inconsequente.
General de Divisão Richard Fernandez Nunes
Chefe do Centro de Comunicação Social do Exército