O procurador aposentado da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, publicou artigo na Folha desta sexta-feira (23), onde pede a saída do presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido-RJ) do cargo.
Um dos líderes da operação que articulou o golpe que derrubou a ex-presidente Dilma Rousseff e pavimentou o caminho para a eleição do atual presidente afirma em seu texto intitulado “Desisto da polidez e boa educação. Fora Bolsonaro!”, que a gota d’água para o seu desabafo foi “a politização de uma crise de saúde pública que, até agora, levou mais de 150 mil brasileiros”.
O procurador, que já admitiu que Bolsonaro era o candidato preferido da Lava Jato, afirma que não se pode mais aceitar o que acontece. “Nem estou falando da corrupção evidente nos gabinetes de seus filhos, nem sua união com a escória política do Congresso Nacional, nem de suas escolhas de pessoas subalternas aos interesses dos políticos, aplaudidas até pelo PT, para altos cargos do STF e do Ministério Público Federal”.
Em uma reflexão um tanto atrasada, o ex-procurador ainda compara Bolsonaro e seus seguidores aos admiradores de Hitler: “já tinha a impressão de que a natureza humana não tinha realmente mudado somente por dez mil anos de civilização, mas agora tenho certeza. Bolsonaro está aí para provar. Foram pessoas como ele e seus seguidores fanáticos da internet que aplaudiram pessoas nas fogueiras, que se regozijaram quando nazistas levaram judeus, ciganos, homossexuais e deficientes físicos e mentais para câmaras de gás, que, enfim, resistem à civilização humana em tudo que ela tem de positivo e bom”.
E, ainda mais contundente, prossegue: “preconceituosos, ignorantes que ouvem a insensatez e loucura de seus iguais nas redes sociais e desacreditam a ciência, o progresso e os mínimos preceitos éticos. Sim, infelizmente como disse Umberto Eco, a internet deu voz a esses imbecis”.
O procurador ressalta em seu artigo que “a saída de Bolsonaro do poder é uma obrigação moral. Seja pela sua não reeleição ou, a via mais urgente, pelo impeachment, que existe para dar uma solução para situações em que haja um crime de responsabilidade. E deixar que brasileiros morram por opção política é sim suficiente para isso”.
Ao final, em uma tentativa de autocrítica, Santos Lima diz que Dilma Rousseff foi “impichada” por muito menos que Bolsonaro já fez. A ex-presidente realmente era incapaz para o cargo, mas Bolsonaro transcende qualquer definição de inadequação ou irresponsabilidade. Fora Bolsonaro!”