Fragilidade política de Moro é escancarada em editoriais da Folha e Estadão

Dois dos principais jornais do país já rifam o "superministro" da Justiça e apontam sua falta de força e habilidade política, o que pode indicar que uma saída de Moro do governo Bolsonaro já não é uma possibilidade tão remota

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Dois dos principais jornais do país, a Folha de S. Paulo e o Estadão, publicaram em suas edições deste domingo (12) editoriais que escancaram a fragilidade política do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Queridinho da imprensa tradicional e rodeado de expectativas, o ex-juiz federal parece estar decepcionando parte desta imprensa, que já o avalia como fraco politicamente. "Um superministro sem força", diz o título do editorial do Estadão. "Derrotas de Moro", destaca a Folha em seu texto opinativo. Para ambas as publicações, o ex-magistrado, tido como a principal "estrela" da Lava Jato, não tem conseguido se adequar ao governo por não ter um apoio sólido no Congresso e, ao mesmo tempo, não ter o tato de um político. "Moro parece se perder na tormenta da desorganização política e administrativa do governo. A inexperiência no jogo parlamentar e a desarticulação com movimentos da sociedade civil contribuem para o desnorteio do ministro, alvo de revanches por parte de figuras do Congresso", diz um trecho do editorial da Folha, avaliando que a "grande iniciativa" de Moro até agora foi o chamado pacote anticrime, que está praticamente parado. Já o Estadão avalia que a decisão do Congresso na última semana que retirou de sua pasta o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) representa uma derrota para Moro e o deixa mais fraco. O jornal, no entanto, elogia a mudança em uma clara crítica ao ex-juiz. "É muito fácil especular sobre más intenções dos políticos a respeito da Lava Jato, mas o fato é que excesso de poder costuma levar a abusos, como tantas vezes se constatou desde que a operação anticorrupção foi deflagrada. Por essa razão, seja lá qual tenha sido a verdadeira motivação dos políticos que derrotaram o governo nessa votação, o resultado é um bem-vindo freio no ímpeto de transformar parte do Estado em aparelho da Lava Jato", diz a publicação. A Folha de S. Paulo ainda vai além ao criticar recuos de Moro, como na ocasião em que, por pressões da ala ideóloga do governo, desistiu da nomeação de Ilona Szabó para um conselho de sua pasta, e chega a sugerir que o ministro deixe o governo Bolsonaro. "Moro não se mostra um superministro, mas tampouco precisa seguir os caminhos tortos do governo", pontua. O Estadão não chega a tanto, mas também não alivia nas críticas."Moro começa a perceber a diferença entre seu trabalho como juiz, cujas sentenças tinham de ser cumpridas, e como ministro, cujo poder depende do respaldo do presidente, de habilidade política e de apoio parlamentar. Sem nada disso, Moro é apenas uma marca de prestígio a representar um governo despreparado para entregar o que prometeu".