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Um relatório da Comissão para a Proteção da Privacidade da Bélgica revelou que o Facebook obteve informações a dados de páginas que contêm plugins sociais e outros serviços
Por Manuel Moreno, publicado em cuartopoder.es. Tradução de Carlos Santos para Esquerda.net
Como é que o Facebook utiliza os dados dos seus usuários? Talvez esta seja uma das questões que mais preocupa as pessoas que têm conta na rede social de Mark Zuckerberg. A companhia explica-o claramente nas suas Condições de Uso e na Política de Privacidade e de Cookies, documentos que põe a disposição de todos os seus membros e a que estes dão o seu consentimento quando criam um perfil.
O problema é que a maior parte dos usuários prefere aceitar as condições destes textos rapidamente, sem as ler, para poder utilizar quanto antes a rede social. Muitos nem sequer sabem que para abrir o perfil estão a aceitar um ‘contrato’ com a companhia, como fazem com qualquer empresa cujos serviços usam.
Este desconhecimento provoca, por vezes, a raiva de alguns membros da rede social, que decidem abandonar o serviço quando conhecem como a companhia gere os dados dos seus membros. Outros internautas, menos, já que o Facebook é usado por mais de 80% dos indivíduos que navegam habitualmente na Internet, preferem manter-se à margem do serviço.
Entre outras ações, a rede social rastreia o percurso que os seus usuários realizam na internet – isto é, obtém informação de que páginas visitam, com quais interagem… – graças à utilização de cookies, que são pequenos arquivos que qualquer página coloca no computador dos seus membros para seguir o seu rastro e hábitos de utilização.
No caso do Facebook, quando um usuário dá um ‘Gosto/Curtir’ em qualquer página da internet, ou deixa um comentário nela utilizando o seu perfil da rede social, está deixando uma marca de como utiliza a internet. Esses dados são utilizados pela rede social para oferecer-lhe promoções relevantes (isto é, publicidade) ou outro tipo de serviços.
No entanto, o Facebook foi mais além. Segundo revelou um relatório da Comissão para a Proteção da Privacidade da Bélgica, o Facebook não só "rastreou" a utilização que os seus membros da internet fazem, mas também obteve informação de como navegam em qualquer site – alheio ao Facebook– outros internautas que não têm perfil criado na rede social.
Isto é, mesmo que não tenhas conta no Facebook podes ter sido ‘espionado’ pela companhia de Mark Zuckerberg, o que viola claramente as diretrizes da União Europeia em matéria de proteção de dados.
Depois da divulgação do relatório do organismo belga, o Facebook reconheceu que teve acesso ‘por erro’ aos dados de páginas que contêm plugins sociais como o botão de Gosto/Curtir e outros serviços. “Encontramos uma falha que pode ter enviado cookies a algumas pessoas quando estas não estavam no Facebook. Não era nossa intenção. Estamos trabalhando para corrigir [essa situação]”, teve que admitir Richard Allan, vice-presidente de assuntos públicos da rede social para a Europa, através de um comunicado publicado, em inglês, na rede social.
“Não colocamos cookies nos navegadores das pessoas que visitaram páginas com plugins sociais mas que nunca entraram no Facebook.com para se registrar. Os investigadores [da Comissão para a Proteção da Privacidade da Bélgica] identificaram alguns exemplos em que pôde ter ocorrido e começámos a abordar estes casos involuntários assim que soubemos deles”, assinala.
No comunicado, o Facebook advoga pela transparência. Assinala que não esconde em nenhum momento a política de utilização de cookies e que, de fato, graças a elas pode mostrar anúncios relevantes aos seus membros. “Usar o Facebook é grátis e é-o por que mostramos anúncios que consideramos interessantes para os usuários, segundo as suas preferências”, aponta Allan.
As explicações da companhia não convencem muitos usuários, que não entendem como puderam ser alojados cookies do Facebook no computador de internautas que não tinham aberto conta na rede social, ainda que estivessem visitando páginas que incluíssem os seus plugins. O site Cuarto Poder entrou em contato com a rede social, que remeteu para o comunicado oficial publicado.
A razão da investigação levada a cabo pela Comissão para a Proteção da Privacidade da Bélgica, outras autoridades nacionais de proteção de dados da União Europeia começaram a investigar o uso que o Facebook faz dos dados dos seus usuários (e de quem não o é).
Em Espanha, a própria Agência Espanhola de Proteção de Dados desenvolveu já ações prévias ao início de uma investigação oficial que levará a cabo em cooperação com outros organismos europeus e que terá como objetivo determinar se o Facebook está a realizar um uso não apropriado dos dados dos membros espanhóis da rede social.
Foto: maria elena/flickr