Audiência do Jornal Nacional desaba e confirma que a Globo chega aos 50 em crise

Isso não significa que a Globo vá falir. Não ainda, já que ela compensa o que eventualmente perde na TV aberta com o que fatura em todas as suas outras atividades, do pay-per-view à TV a cabo. Mas, do ponto de vista de hegemonia informativa, é o começo do fim

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Isso não significa que a Globo vá falir. Não ainda, já que ela compensa o que eventualmente perde na TV aberta com o que fatura em todas as suas outras atividades, do pay-per-view à TV a cabo. Mas, do ponto de vista de hegemonia informativa, é o começo do fim Por Luiz Carlos Azenha, no Viomundo Trabalhei na Globo em duas fases de minha carreira. Na TV Bauru, nos anos 80, quando passei longas temporadas em São Paulo cobrindo as férias de colegas. Não existia medição instantânea de audiência então, mas costumávamos aferir isso andando nas ruas: dava para ouvir o eco do Jornal Nacional sintonizado praticamente em todas as casas. As pessoas acertavam o relógio pelo início do JN. Voltei à Globo no final dos anos 90. O Globo Repórter, que hoje fica na casa dos 20 pontos, ainda ficava por perto dos 35. Certa vez, fui o repórter de um programa que se tornou fenômeno: 44 pontos de pico! Teve até festa… O Jornal Nacional ficava entre os 30 e os 40 pontos, o que ainda assim é uma enormidade. Era possível ouvir o eco do JN nas ruas, mas apenas em cidades do interior. Hoje, tomei um susto. Acompanhando a medição minuto a minuto, através de um colega, o Jornal Nacional bateu em 18,6! Perdeu, na soma, para as novelas da Record e do SBT! Isso não significa que a Globo vai falir. Não ainda. É que a emissora compensa o que eventualmente perde na TV aberta com o que fatura em todas as suas outras atividades, do pay-per-view à TV a cabo. Mas, do ponto-de-vista de hegemonia informativa, é o começo do fim. Quem está derrotando a Globo? Uma soma de internet no celular + You Tube + Netflix + TV a cabo + ascensão social daqueles que não tem na TV sua única diversão. O certo é que a emissora chega aos 50 anos enfrentando não só uma crise de audiência, mas também de credibilidade. O que antes era coisa de acadêmico, agora se tornou voz corrente para milhões e milhões de brasileiros: a Globo faz política e é o partido mais poderoso da oposição. Isso ficou claro no dia 15 de março, quando a Globo bateu os bumbos da cobertura de manhã, em todo o Brasil, com o objetivo de arrastar gente para a manifestação de São Paulo, à tarde. Muitos foram à Paulista como se tratasse de um “acontecimento” global, para garantir a selfie. O advento das redes sociais, por outro lado, criou massa crítica de telespectadores capazes de identificar as omissões, distorções ou mentiras da Globo. A emissora fala, mas também ouve. Cada vez mais. Enquanto você lê isso, dois atos estão sendo organizados por internautas contra a Globo, aparentemente de forma espontânea, sem a participação de partidos, sindicatos ou movimentos sociais. Dia 26 de abril, 15 horas, no MASP  e no dia da mentira, o primeiro de abril, às 17 horas, diante das sedes da emissora em todo o Brasil. Além disso, pela primeira vez internautas pedem simplesmente a cassação da outorga da Globo pelo descumprimento da Constituição de 1988. Mesmo que isso não aconteça, eles entenderam perfeitamente a mensagem: tudo o que queremos, os que militamos pela democratização dos meios, é o cumprimento da Constituição! A ironia é que mesmo que o JN der cobertura aos dois eventos mencionados acima, os participantes não vão perder o sono se não saírem na telinha. É gente jovem, que não assiste TV e se liga mesmo é nas redes sociais. Sinal dos tempos. PS do Viomundo: Ricardo Feltrin, no UOL, informa que dez anos atrás a média do JN era de 35 pontos; na segunda-feira passada a média foi de 29! Foto: Divulgação