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Roberto Savio, da IPS, criticou também a formação dos jornalistas, mais comercial do que profissional. “Quando se estuda jornalismo na faculdade é para se formar redatores iguais. O que importa é o marketing, que sejam lidos”, disse. O resultado, segundo ele, é que a imprensa trata de eventos, não de processos
Por Mônica Mourão, no Ciranda.net
A concentração da mídia é fundamental para o fenômeno da homogeneização da visão de mundo. Para Roberto Savio, presidente da agência italiana Inter Press Service, o fato de se ter poucas organizações de mídia que fazem as imagens usadas nas TVs de todo o mundo e produzem as notícias internacionais reduz cada vez mais as diferenças entre as coberturas jornalísticas. A análise foi feita na mesa de abertura do 4º Fórum Mundial de Mídia Livre, que começou ontem (22) na Universidade El Manar, em Túnis. Na plateia, mais de 300 pessoas acompanharam o debate, que contou também com a presença de Maria Moukrim, diretora do portal de informações Febrayer.com.
As agências France Press, Associated Press e Reuters são os principais agentes que dão o mundo a ser lido aos outros. “Essa visão unilateral do mundo, em geral americana, é uma visão do mundo que é estrangeira à cultura dos demais países”, afirma Savio. Segundo o italiano, quando se fala de mass media se fala dos Estados Unidos e de jornais de elite. O fenômeno se baseia nos valores comerciais que orientam as grandes corporações midiáticas: para que seu negócio seja sustentável, poucas mantêm correspondentes internacionais.
Savio criticou também a formação dos jornalistas. “Quando se estuda jornalismo na faculdade é para se formar redatores iguais. O que importa é o marketing, que sejam lidos”, disse. A formação seria então mais comercial do que profissional. O resultado, para Savio, é que a imprensa trata de eventos, não de processos. Assim, produz-se coberturas sem contextualização e que não dão conta da complexidade do mundo.
Com relação à mídia livre, Savio pontuou que “nossa informação não tem valor comercial, tem outros valores”. Ela deve ser o menos vertical possível, trabalhar com a inclusão e o diálogo. Para o público, formado por midialivristas, comunicadoras e comunicadores populares e jornalistas, Roberto Savio conclamou: “Não percam jamais a capacidade de se indignar e de denunciar”.
Mônica Mourão é jornalista e integrante do Coletivo Intervozes
Foto: Mídia Ninja