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No ArenaNET Mundial, o criador do WikiLeaks participou, via Skype, do debate sobre soberania digital e vigilância na internet
Por Ivan Longo
[caption id="attachment_45792" align="alignleft" width="300"] Assange participa, via Skype, do debate sobre Soberania Digital e Vigilância na era da Internet. (Foto: Eduardo Aigner)[/caption]
Para o debate sobre Soberania Digital e Vigilância na era da Internet, no terceiro e último dia do ArenaNET Mundial, foram convidados nomes de peso na militância pela internet livre. Jacob Appelbaum, especialista e pesquisador americano em segurança de computadores; Natália Viana, jornalista e responsável pelo Wikileaks Brasil; Sérgio Amadeu, sociólogo e militante do software livre, e Roy Singham, CEO da ThoughtWorks, estavam entre eles. O nome mais esperado para esta tarde, no entanto, foi o de Julian Assange, jornalista e ciberativista australiano, criador da rede WikiLeaks.
Diretamente da embaixada do Equador em Londres, onde vive em asilo desde 2012, Assange participou da mesa via Skype. Vestindo uma camiseta da seleção brasileira de futebol, o criador do WikiLeaks agradeceu a oportunidade de fazer parte do evento e disse estar muito satisfeito com a aprovação do Marco Civil da Internet. "Sei que houve concessões para a aprovação, mas acho, ainda assim, que é um passo importante estabelecer isto em um país tão grande como o Brasil, que está encontrando o seu caminho no mundo", afirmou.
A qualidade da transmissão de Assange via Skype estava oscilando muito, o que o fez até brincar com a possibilidade de estar sendo boicotado pela NSA, a agência de espionagem norte-americana. "É só falar algo polêmico que a conexão cai...", ironizou.
Durante sua fala, Assange, além de enaltecer a importância do ArenaNET Mundial e do NETMundial para trilhar os novos caminhos da internet no mundo, atentou para o fato de que os eventos representam um novo impulso político, e que se trata de uma ameaça aos interesses dos Estados Unidos. Por isso, o Brasil deve continuar lutando para não ceder às pressões. "Estados Unidos e Reino Unido têm sido colonizadores do espaço da internet, e eles reconhecem a ameaça que os esforços feitos pelo Brasil, na criação de ambientes alternativos, representa. O NETMundial e o Arena NETMundial estão sob forte pressão dos EUA e seus aliados. Então, vamos fazer nosso brado de guerra contra essa pressão geopolítica", convocou.
O jornalista destacou ainda que existe um novo campo de jogo pelo poder no mundo e que esse campo é a internet. Por isso, segundo ele, "existe uma guerra mundial acontecendo e essa guerra é para controlar a web". Assange explicou que isso ocorre já que, na sua opinião, a internet e a sociedade se transformaram em uma coisa só. "Quando não existe nenhum tipo de limitação entre as sociedades da internet, ocupar a web torna-se a mesma coisa que ocupar a sociedade. Não existe mais diferença entre a internet e a sociedade. As pequenas diferenças que existem estão desaparecendo. O controle sobre a internet é o controle sobre as economias do mundo", disse, esclarecendo ainda que, por conta do jogo de poder que representa a rede, é de suma importância promover debates sobre internet livre como o Brasil está fazendo.
Em relação ao Marco Civil da Internet, o criador do WikiLeaks foi só elogios, mas aproveitou alertar as pessoas de que nem sempre uma lei, quando aprovada, é aplicada, e que por isso é essencial a sociedade não ter medo e continuar lutando. "Em relação ao Marco Civil, ele é ótimo. Mas quando algo é aprovado, nem sempre é aplicado. Só é aplicado com pressão política. Precisamos nos estruturar para ter poder político e colocar as coisas em prática", disse. "Não se assustem quanto aos poderes dos EUA, o que muitas vezes impede as pessoas de se engajarem. A realidade é que a NSA é uma agência muito incompetente. Por isso que Snowden teve a possibilidade de hackear. O Pentágono tem sido muito amedrontado pelos espaços alternativos como esse, e nós estamos lidando com instituições nada democráticas. Se construirmos nossas próprias associações, iremos muito mais longe", analisou.
Ao final do debate, com uma transmissão um pouco melhor, Assange voltou a falar sobre os riscos que o Marco Civil da Internet corre, em relação à vigilância, pela pressão das corporações e dos Estados Unidos, mas concordou com o professor e sociólogo Sérgio Amadeu, que convocou a sociedade a se aproximar da criptografia para dificultar a vigilância da NSA. "Concordo com todas as palavras do Sérgio. Quando aprovamos uma legislação sempre há o risco que ela seja corrompida com o tempo. Se a pressão das grandes corporações e a pressão dos EUA continuarem, essa legislação será corrompida. A única maneira de impedir é com o nosso trabalho, nossa solidariedade e nossa pressão. Precisamos da criptografia, do software livre... Podemos construir um sistema diferente. Não vamos parar de lutar, e esse é o momento", finalizou.