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É interessante notar que, nos Estados Unidos, o reinado das TVs abertas começou a ruir com a era do cabo – que acabou com o oligopólio das redes de TVs abertas
Por Luis Nassif, no GGN
Na Pesquisa Brasileira de Mídia 2013, preparada pelo IBOPE Inteligência para a Secom, o cruzamento de duas tabelas mostra o futuro complicado da TV aberta.
O primeiro, é a relação dos programas de maior audiência durante a semana. Nenhuma TV – inclusive a Globo – consegue fugir da fórmula telejornal – novelas – programa de esporte.
Depois da era Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho) a Globo acomodou-se com o quase monopólio da audiência e não ousou mais inovar. Em uma prova cabal de que a oligopolização dos meios de comunicação mata a inovação, todos os canais enveredaram pela mesma fórmula, com maior sucesso da Record – que adotou a técnica de praticamente emular os programas de maior audiência da Globo.
A segunda tabela é a que compara o uso da TV aberta e TV paga.
Observa-se um amplo avança da TV paga nos segmentos de maior renda. Na faixa acima de 5 salários mínimos, por exemplo, 40% das famílias assistem somente TV aberta; 48% tem canais abertos e pagos; e 11% dispõem apenas de TV paga.
Nas casas com dois tipos de canais, provavelmente a família assiste TV paga e os auxiliares a TV aberta.
A pesquisa não abre os dados programas mais assistidos de acordo com faixa etária. Se abrisse, provavelmente se veria que a maior ameaça ao modelo TV Globo são as séries existentes em canais pagos.
Pode se universo restrito, o de minhas filhas caçulas. Mas nos seus círculos de colegas e amigos, só se discutem as séries dos canais pagos. Eles se reúnem no começo da noite para, através do Facebook, WhatsApp ou celular, discutir as séries, com um fogo similar ao que sacudia o país décadas atrás, em torno do desfecho das novelas. As novelas desapareceram do seu repertório.
Mesmo assim, as novelas ainda têm o atrativo da sequência - as séries norte-americanas contam uma história inteira em cada capítulo.
É interessante notar que, nos Estados Unidos, o reinado das TVs abertas começou a ruir com a era do cabo – que acabou com o oligopólio das redes de TVs abertas. Foi esse modelo que permitiu a consagração da CNN e dos canais de filmes.
Por aqui, a Globo tentou controlar o cabo, através de alianças com possíveis “laranjas”, para conseguir concessões em cidades médias. Antes disso, com a criação da Net.
A crise financeira de 1999 liquidou com suas pretensões.
Anos atrás, a NET foi oferecida para a Telefonica – que a recusou. Na época, o presidente era Fernando Xavier, que acabou optando pela TVA da Abril – salvando a editora da quebra mas fazendo a Telefonica perder o bonde do chamado triplo serviço – oferecer pela mesma rede telefonia fixa, TV a cabo e internet. Creio ter sido um dos maiores erros de estratégia da década,
Com a recusa, quem adquiriu foi o mexicano Carlos Slim, que saiu na frente.
Hoje a Globo se posicionou no cabo com uma série de canais – e com a grande Alice Maria transformando a Globonews em um modelo de jornalismo (descontado o viés político e econômico). O modelo ainda não permitiu a consolidação de canais brasileiros alternativos. Os grandes competidores de conteúdo são grupos estrangeiros.