Estudo mostra que Passe Livre teve 62% de apoio nas redes sociais no dia 13/6

O resultado não deixa margem à dúvida de que na rede a causa do Passe Livre é vitoriosa.

Este grafo representa as mensagens que mais geraram comentários no período das 16 horas do dia 13 até as 6h do dia 14.
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Por Renato Rovai A Interagentes produziu uma análise das postagens na rede que foram compartilhadas no Facebook na quinta-feira passada, dia 13/6, quando São Paulo foi governada e dominada durante toda à noite  pelas bombas e as balas de borracha da Polícia Militar. O estudo deixa claro que o movimento Passe Livre teve amplo apoio da população com perfil no Facebook e que comentou o assunto naquele dia. Foram 62% de comentários positivos, contra 16% de negativos. Os 22% de comentários restantes foram classificados como neutros. O resultado não deixa margem à dúvida de que na rede a causa do Passe Livre é vitoriosa. As análises da Interagentes não se restringiram ao dia 13. O monitoramento do tema para esse estudo foi feito desde a zero hora do dia 5 e fechado às 23h59 do dia 14. Outro dado que merece destaque é três páginas dos Anonymous foram mais influentes que a própria página do Passe Livre na conversação sobre o tema. A do Passe Livre foi a quinta mais influente do assunto. Manifestações com dinâmicas de rede ainda são algo muito novo e têm dinâmicas bem diferentes daquelas realizadas com princípios analógicos e industrias. Governantes que quiserem atuar de forma realmente democrática vão ter de estudá-las para poder dar respostas à altura deste novo contexto e não ficar como birutas malucas tentando "localizar as lideranças". Os que usam apenas o porrete, não precisam estudar nada. Esses sabem sempre como agir. A Interagentes é dirigida pelos sociólogos Sérgio Amadeu e Tiago Pimentel e trabalha em parceria com a Publisher Brasil, editora da Revista Fórum, na análise e divulgação dos seus estudos.

Cartografia de redes: Um mapeamento das manifestações de 13 de Junho

Visão geral

As buscas realizadas no Facebook visaram capturar citações públicas às manifestações contra o aumento de tarifas de ônibus. Os acontecimentos de quinta-feira (13/6) ganharam destaque nessa análise.

O período ao qual estas buscas se referem é da zero hora do dia 5 até as 23:59:59 do dia 14.

Foram elaboradas combinações de termos de busca para a composição de quatro bancos de dados:

Banco 1 – Citações públicas à uma combinação de termos sobre as manifestações – 292.896 resultados Banco 2 – Citações públicas ao termo 'tarifa' – 61.600 resultados Banco 3 – Citações públicas ao termo 'Haddad' – 38.400 resultados Banco 4 – Citações públicas ao termo 'Alckmin' – 26.400 resultados

Para efeitos de análise de estatística optou-se por compor as amostragens a partir do Banco 2. Ainda assim, o Banco 1, provavelmente, é o que mais se aproxima do volume total de mensagens públicas no período analisado.

[caption id="attachment_25490" align="aligncenter" width="587"]Gráfico comparativo do volume de mensagens por banco de dados. Gráfico comparativo do volume de mensagens por banco de dados.[/caption] [caption id="attachment_25491" align="aligncenter" width="595"]Gráfico comparativo do volume de mensagens por banco de dados. Gráfico comparativo do volume de mensagens/dia, por banco de dados.[/caption]

O dia 13 de Junho nas redes

Para analisar as interações na rede, especificamente no Facebook, durante as manifestações da quinta-feira (13), a Interagentes fez uma análise qualitativa tendo como universo as mensagem publicadas neste dia.

A pesquisa analisou uma amostra estatística de um universo de 63.494 postagens e a partir da análise qualitativa verificou-se que a percepção dos usuários da rede social em relação às manifestações convocadas pelo movimento Passe Livre durante o ato era majoritariamente positiva, representando uma parcela de 62% da amostra. Usuários com uma percepção negativa em relação à manifestação que ocorria naquele momento em São Paulo representavam 16% do total. Outros 22% são postagens classificadas como neutras e representam apenas a repercussão de notícias sem comentários que permitam inferir a posição do autor da mensagem. [caption id="attachment_25492" align="aligncenter" width="593"]Movimento Passe Livre - percepeção dos usuários do Facebook Movimento Passe Livre - percepeção dos usuários do Facebook[/caption]

Dentre os temas mais recorrentes nas postagens do dia 13 estão as mensagens de apoio à manifestação contra o aumento das passagens, representando 27% do total, e as críticas à atuação violenta da polícia militar, que representam uma parcela de 19% das mensagens – mais que o dobro do volume registrado nos dias precedentes. Outros 13% são postagens que sugerem a adesão de seus autores ao movimento, contendo convocações para as manifestações, notas públicas do Movimento Passe Livre, confirmação de presença nos eventos criados para a divulgação dos atos e fotografias com registros pessoais da manifestação.

Mensagens que criticam especificamente o alto valor das tarifas, sem expressar um posicionamento em relação às manifestações representam uma fatia de 10% do total e outros 9% são mensagens que criticam a cobertura dos grandes veículos de comunicação.

Entre as postagens que evidenciam uma percepção negativa das manifestações estão mensagens que acusam os manifestantes de praticarem atos de depredação do patrimônio público e vandalismo, representando 7% do total e 5% firmam que o protesto contra o aumento de 0,20 centavos na tarifa é irrelevante para solucionar os problemas que o país enfrenta.

A postura do Partido dos Trabalhadores e do prefeito Fernando Haddad em relação às manifestações é criticada em 6% das mensagens e outros 2% criticam a postura do PSDB e do governador Geraldo Alckmin.

Há ainda uma parcela de 2% que avaliam que o direito democrático deve ser exercido pelo voto, e não em manifestações públicas. [caption id="attachment_25493" align="aligncenter" width="594"]Temas em destaque - Percepção dos usuários - Facebook Temas em destaque - Percepção dos usuários - Facebook[/caption]

Uma cartografia da manifestação

Na quinta-feira (13) nossas buscas registraram um total de 63.494 mensagens públicas no Facebook. Estas mensagens partiram de 52.843 perfis diferentes.

A baixa média de mensagens por pessoa e o grande número de pessoas engajadas sugerem um padrão de cobertura viral dos acontecimentos. Isso mostra ainda que a mobilização contou com o padrão de liderança distribuída, bem diferente do que ocorre com movimentos tradicionais, com centros difusores de informação mais verticalizados e concentrados.

Para análise do padrão das manifestações públicas nas redes plotamos um grafo das mensagens mais comentadas durante todo o dia 13. O mapeamento dos perfis cujas postagens foram mais comentadas visou detectar os agentes privilegiados no debate público nas redes, ainda no calor dos eventos das ruas. [caption id="attachment_25487" align="aligncenter" width="600"] Este grafo representa as mensagens que mais geraram comentários no período das 16 horas do dia 13 até as 6h do dia 14.[/caption]

Segundo este critério, entre os nós de rede que mais geraram repercussão estão 3 páginas relacionadas aos Anonymous. A página do Passe Livre São Paulo apareceu apenas na 5º posição, o que reforça a tese de que as manifestações apresentaram padrão de liderança distribuída.

A rede e as ruas

Em momentos como esse a relação entre a rede e a rua se estreita. Há quem esteja nas ruas relatando, pelas redes, o calor da mobilização social. Há quem esteja dentro das redes interagindo, compartilhando e se posicionando, o que aumenta ainda mais a mobilização social, para além das ruas.

Ao mesmo tempo que detecta-se a ausência de uma única organização hierárquica dos movimentos, quase um movimento autônomo, nota-se a emergência de atores que podem ser considerados “nós desprivilegiados” da rede. Suas mensagens adquirem grande relevância não tanto pelo tamanho da rede imediada que este agente é capaz de mobilizar, mas sobretudo pela sua capacidade de ter dito algo que catalizou reações e se espalhou de maneira viral pelas redes.

Um bom exemplo dessa cobertura viral é o vídeo (https://www.facebook.com/photo.php?v=658874737474532de Marcel Bari, que conta com mais de 108 mil compartilhamentos. Outro exemplo é o vídeo (http://www.youtube.com/watch?v=kxPNQDFcR0U), fartamente difundido nas redes, que registra policial quebrando o vidro da viatura, que conta com mais de 1 milhão de visualizações no youtube.

A evolução dos eventos

Nesta articulação entre rede e rua os eventos no Facebook ganham um papel de destaque. Ao mesmo tempo em que funcionam como canal privilegiado de articulação dos ativistas e movimentos, são expressão da composição heterogênea e da construção capilarizada das diversas narrativas.

A evolução do número de participantes confirmados nos eventos do Facebook apontam para o forte engajamento a partir da repercussão da manifestação do dia 13. Se na manifestação do dia 13 o número de participantes confirmados no Facebook chegou próximo dos 28 mil, nas manifestações marcadas para a segunda-feira (16), até o momento de fechamento desta análise ultrapassava os 215.000, um aumento de mais de 660%. [caption id="attachment_25494" align="alignnone" width="594"]Evolução dos eventos dos atos contra o aumento de tarifas de ônibus - Facebook Evolução dos eventos dos atos contra o aumento de tarifas de ônibus - Facebook[/caption]