Evolutivamente, a aquisição da mitocôndria — a organela celular responsável por gerar a energia química necessária para o funcionamento das células, por meio da "respiração celular" (processo que requer oxigênio) — foi um evento fundamental no desenvolvimento dos eucariotas, os organismos vivos formados por células (constituídas de um núcleo, uma membrana e várias organelas).
De fungos a protozoários, nos reinos animal e vegetal, o oxigênio é fundamental para a vida. Mas uma descoberta da ciência acabou por desafiar essa noção, e mostrou que pode sim haver vida animal que não utiliza oxigênio na Terra — ou, quem sabe, em outros planetas.
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Um artigo publicado no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences analisa o funcionamento do Henneguya salminicola, um parasita multicelular que mede aproximadamente oito milímetros e vive de forma parasitária na carne de salmões.
O mais impressionante? O H. salminicola não tem mitocôndrias. Isso significa que ele não usa oxigênio para produzir energia ou realizar a respiração celular — um traço até então considerado essencial a organismos vivos multicelulares.
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Créditos: Wikimedia Commons
"Nossas análises sugerem que H. salminicola perdeu não só seu genoma mitocondrial, mas também quase todos os genes nucleares envolvidos na transcrição e replicação de seu genoma mitocondrial", conta o artigo.
Um animal multicelular e parasitário que não precisa de oxigênio para sobreviver: é isso que indicam os resultados do estudo, em que micrografias de fluorescência foram realizadas para avaliar a presença de DNA mitocondrial nas células de H. salminicola.
Apesar de não ter traços de DNA mitocondrial, o H. salminicola mantém algumas organelas semelhantes a mitocôndrias, com membranas duplas e cristas. Essas estruturas, chamadas organelas relacionadas à mitocôndria (MROs), realizam outras funções metabólicas — mas sem utilizar nada de oxigênio.
Isso indica que o organismo pode extrair sua energia diretamente de seu hospedeiro, o salmão infectado pela atividade parasitária. A evolução anaeróbica do parasita, além disso, pode estar relacionada à falta de oxigênio no músculo branco dos peixes hospedeiros, o que exigiu essa adaptação evolutiva.
Ele é, portanto, o primeiro animal multicelular conhecido a sobreviver permanentemente sem respiração aeróbica, e isso pode abrir portas para o estudo da vida em formas extremas ou até extraplanetárias.