Onde é produzido o chocolate mais raro do mundo e quanto ele custa?

Com apenas 50 gramas, uma barra de chocolate feita com cacau Nacional, uma das variedades de cacau mais raras do mundo, pode atingir preços exorbitantes

Cacau.Créditos: Science Photo Gallery / divulgação
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Um dos chocolates mais raros do mundo nasce de um grão ancestral, que foi redescoberto em um vale remoto do Equador após décadas de esquecimento. Conhecido como “cacau Nacional”, essa variedade endêmica da região é a base do chocolate To’ak, produzido em quantidades extremamente limitadas e considerado o mais exclusivo (e caro) do mundo. Para se ter uma ideia, 50 gramas de To’ak podem ultrapassar US$ 300, dependendo da edição.

O perfil sensorial do To’ak é descrito como floral, frutado e complexo, e remete à sua linhagem genética singular, que se acreditava extinta desde o início do século XX.

O cacau Nacional foi redescoberto por produtores locais na região de Piedra de Plata, na costa equatoriana, onde algumas árvores centenárias sobreviveram ao colapso que dizimou as plantações locais no passado. Arqueólogos rastrearam as origens genéticas do cacau até o Equador, onde encontraram evidências de domesticação dos cacaueiros que remontam a pelo menos 5.300 anos na cultura Mayo-Chinchipe.

Ao contrário das variedades comerciais híbridas que costumam ser utilizadas em larga escala, o cacau Nacional é cultivado em pequena escala por produtores da região, com métodos de agricultura regenerativa e foco maior em qualidade. A marca que usa esse cacau, To’ak, foi fundada em 2013, e o processo que usa para a produção do chocolate, de forma artesanal e minuciosa, pode levar até cinco meses.

Quando finalizadas, as barras têm apenas 50 gramas, e são apresentadas em caixas de madeira talhadas à mão e acompanhadas de um livro de mais de cem páginas com informações sobre a origem do cacau, notas de degustação e a filosofia da marca.

O preço desse “mimo”? Cerca de US$ 270, o equivalente a mais de R$ 1.300.

A produção anual do cacau é tão pequena que o estoque global é medido em poucas centenas de barras, que ficam disponíveis apenas no site da empresa e em algumas boutiques especializadas em gastronomia de luxo. Ele não é, portanto, ingrediente de produtos industrializados ou produzidos em grande escala. Seu público-alvo são colecionadores, sommeliers de chocolate e entusiastas da alta gastronomia.

Embora o To’ak seja um ícone da raridade no mundo do chocolate, o Brasil também tem cacaus excepcionais. Um exemplo é o cacau Catongo Branco, originário do sul da Bahia, cujas amêndoas naturalmente claras produzem um chocolate mais suave e delicado. 

Outro destaque nacional é o cacau selvagem da Amazônia, colhido por comunidades indígenas como os Yanomami, que se destaca pela cadeia produtiva sustentável e pela valorização do saber tradicional.

Hoje, a maioria do cacau usado para abastecer o mundo é produzido na Costa do Marfim, país africano que divide a produção de 65% de todo o cacau do mundo com Gana, Nigéria e Camarões.

Em 2025, o aumento do preço do cacau atingiu níveis recordes, o que tornou essa commodity mais cara, por exemplo, do que o cobre.

O motivo? Um vírus do cacaueiro responsável por causar a "doença do broto inchado" (CSSV, na sigla em inglês), que se espalha pelas árvores e reduz a produtividade da fruta em até 50% em dois anos.

Isso, somado à instabilidade climática causada por um El Niño mais forte, que levou a períodos mais prolongados tanto de chuva como de secas, pode encarecer o cacau "comum" como se ele fosse um produto de luxo.

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