Estudo revela "poluidor secreto" que emite mais carbono que o Brasil

Relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) alerta para o potencial de aquecimento preocupante

Minas de carvão desativadas e poços de petróleo e gás abandonados estão entre as principais fontes globais de metano.Créditos: Flickr
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Minas de carvão desativadas e poços de petróleo e gás abandonados estão entre as principais fontes globais de metano, um dos gases de efeito estufa mais potentes, segundo novo relatório da Agência Internacional de Energia (AIE).

A emissão dessas estruturas supera a de países como o Irã e, se fosse considerada isoladamente, ocuparia o quarto lugar no ranking mundial de emissores, atrás apenas da China, Estados Unidos e Rússia.

O metano possui um potencial de aquecimento global cerca de 80 vezes maior que o dióxido de carbono em um período de 20 anos. Por isso, sua redução é apontada como uma estratégia urgente para desacelerar o aquecimento global, especialmente no curto prazo. Embora parte das emissões seja natural, a maior parcela tem origem na produção de combustíveis fósseis e na agropecuária.

A AIE estima que a descontaminação de instalações fósseis desativadas exigiria um investimento de aproximadamente US$ 100 bilhões. Apesar do custo elevado, os benefícios climáticos não são despresíveis.

No entanto, segundo Tomás de Oliveira Bredariol, autor do relatório, a ausência de retorno financeiro direto dificulta a mobilização de recursos para esse fim. Ele destaca que há cerca de 8 milhões de instalações abandonadas apenas em áreas terrestres da indústria de petróleo e gás.

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Apesar da urgência, países com grandes volumes de emissões ainda demonstram pouco engajamento. A Rússia, dona de uma das infraestruturas mais antigas e com alto índice de vazamentos, tem se afastado das negociações climáticas. Nos EUA, medidas de controle avançaram sob Joe Biden, mas correm risco de retrocesso com as revisões propostas por Donald Trump.

O relatório também revelou que os níveis de metano provenientes da produção de combustíveis fósseis permanecem altos, mesmo com soluções de baixo custo e, em alguns casos, lucrativas, como a captura e comercialização do gás. Satélites mais modernos têm permitido medições mais precisas, revelando que muitos países subestimam suas emissões em relatórios oficiais.

Para Durwood Zaelke, do Instituto para Governança e Desenvolvimento Sustentável, mensurar o problema já não é suficiente. Ele defende um pacto internacional focado exclusivamente no metano, proposta também apoiada por líderes como Mia Mottley, primeira-ministra de Barbados.

Apesar dos desafios, há sinais positivos. A China aprovou novas normas para o setor de carvão, enquanto Canadá, Cazaquistão, Brasil e Reino Unido têm avançado em iniciativas regulatórias. Para Marcelo Mena, da Global Methane Hub, esses avanços demonstram uma crescente compreensão de que a redução do metano é uma das maneiras mais eficazes de conter a crise climática.

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