Pela primeira vez, especialistas em clima apontam que até o fim desta década o planeta pode registrar um ano com aquecimento médio superior a 2?°C em relação aos níveis pré-industriais — uma marca alarmante que evidencia o avanço da crise climática.
A projeção vem do Met Office, o serviço meteorológico britânico, que publica anualmente um relatório com base em observações globais e modelos climáticos de diversas instituições. A previsão mais recente sugere que, embora ainda improvável, existe a possibilidade de que essa elevação drástica de temperatura aconteça já em 2029.
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“Isso era algo considerado impossível até pouco tempo atrás”, afirmou Adam Scaife, meteorologista do Met Office. Segundo ele, tal cenário seria inédito e preocupante. O Acordo de Paris, firmado em 2015, estabeleceu o limite de 2?°C como barreira a ser evitada — e busca manter o aquecimento abaixo de 1,5?°C sempre que possível. Ainda assim, ultrapassar os 2?°C por um único ano não significaria, por si só, o descumprimento das metas, que se baseiam em tendências de longo prazo.
A estimativa surge em meio a novos recordes de temperatura. Em 2023, o mundo ultrapassou pela primeira vez a média de 1,5?°C em um ano, impulsionado pelas emissões crescentes e pela intensificação do fenômeno El Niño. Agora, há 86% de chance de que ao menos um dos próximos cinco anos também ultrapasse esse patamar, segundo a Atualização Climática Global da OMM (Organização Meteorológica Mundial).
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Além disso, a probabilidade de que o período entre 2025 e 2029 tenha média superior a 1,5?°C subiu para 70%, um aumento expressivo em relação aos 47% previstos no relatório anterior, que cobria 2024 a 2028. “Estamos muito próximos de ver anos com 1,5?°C se tornando a norma”, destacou Scaife.
Embora a chance de um ano superar os 2?°C ainda seja estimada em apenas 1%, ela não pode ser descartada. Leon Hermanson, também do Met Office, explicou que isso exigiria uma combinação rara de fatores climáticos, como um El Niño extremamente forte somado a uma Oscilação Ártica positiva — condições que amplificariam o calor em regiões como a Eurásia.
A tendência, no entanto, é que essa probabilidade aumente se não houver cortes significativos nas emissões de gases de efeito estufa. “O que parecia improvável com 1,5?°C em 2015 é o que estamos vendo agora com 2?°C”, comentou Hermanson.
Para Chris Hewitt, da OMM, ainda é possível conter os efeitos mais severos da crise climática. Mas isso depende de uma redução drástica nas emissões. “Cada fração de grau conta”, alertou.
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*Com informações de New Scientist