EMERGÊNCIA CLIMÁTICA

"Espiral do silêncio": Entenda como ela impede ações climáticas apesar do apoio popular

Fenômeno é ainda mais forte em lugares onde os efeitos da crise climática já são sentidos no dia a dia

Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Um experimento recente feito por pesquisadores da Universidade de Bonn mostrou que muita gente está disposta a agir contra as mudanças climáticas — e mais do que isso: as pessoas tendem a subestimar esse apoio coletivo.

No estudo, participantes podiam dividir um valor entre uma doação para uma causa ambiental e dinheiro para uso pessoal. Em média, metade do valor foi doada. Mas quando os pesquisadores informaram que 79% das pessoas acham que todos devem fazer algo contra a crise climática, as doações aumentaram. Só essa informação já fez diferença.

A pesquisa, feita em escala global e publicada na Nature Climate Change, ouviu 130 mil pessoas em 125 países, responsáveis por quase todas as emissões de gases de efeito estufa no planeta. O resultado foi claro: 89% querem que seus governos façam mais contra o aquecimento global, e mais de dois terços estariam dispostos a doar parte da renda para isso. Só que, ao mesmo tempo, a maioria acha que pouca gente pensa assim.

Falsa ilusão de minoria 

Esse desencontro entre o que as pessoas acreditam e o que realmente pensam é o que os especialistas chamam de “ilusão de minoria”. Ou seja: mesmo sendo maioria, quem se preocupa com o clima acha que está sozinho. Isso enfraquece o senso de comunidade e atrasa mudanças importantes. Mas há um lado positivo: quando as pessoas percebem que não estão sozinhas, ficam mais dispostas a agir.

Esse fenômeno é ainda mais forte em lugares onde os efeitos da crise climática já são sentidos no dia a dia. Nos países ricos, a disposição para doar é menor. Mesmo assim, o apoio à ação climática é alto: na China, 97% acham que o governo deveria fazer mais. Nos Estados Unidos, três em cada quatro dizem o mesmo. E até em países produtores de petróleo, como Arábia Saudita e Emirados Árabes, cerca de 80% dizem estar dispostos a doar parte da renda para a causa.

Vários estudos recentes reforçam esse cenário. Uma pesquisa da ONU com 75 mil pessoas mostrou que 80% querem que seus governos assumam compromissos mais firmes com o clima. Outra, com 40 mil participantes nos países mais poluentes do mundo, apontou 86% de apoio à ação ambiental. Mesmo entre eleitores de partidos que rejeitam a pauta climática, há um reconhecimento de que o governo precisa agir.

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O problema é que muitas vezes os políticos não percebem isso. Estudos mostram que eles costumam subestimar o apoio popular a políticas como energia renovável e regulação de emissões. E isso tem impacto direto nas decisões que tomam.

A boa notícia é que corrigir essa percepção pode ter um efeito enorme. Mostrar às pessoas que há uma maioria preocupada com o clima pode motivar mais ações individuais e coletivas. Somos influenciados pelo que achamos que os outros pensam — e se soubermos que a maioria se importa com o planeta, vamos nos sentir mais seguros para agir também.

Claro que isso não resolve tudo. A forma como a informação é passada importa — histórias funcionam melhor do que números, e repetir é mais eficaz do que falar uma vez só. Mas é um começo. Afinal, em tempos de desinformação e negacionismo, talvez uma das ações mais poderosas que temos seja justamente essa: dizer a verdade sobre o que o mundo realmente quer.

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