Pela primeira vez na história do prêmio, cientistas sul-americanos levam ‘Nobel’ ambiental

Com pesquisas dedicadas a entender o impacto da economia sustentável e dos povos tradicionais na Amazônia, os pesquisadores recebem prêmio de US$ 250 mil

Eduardo Brondízio e Sandra Díaz.Créditos: Divulgação/Unicamp; Wikipedia
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

O Prêmio Tyler de Conquista Ambiental (Tyler Prize for Environmental Achievement), administrado pela Universidade do Sul da Califórnia, concede, anualmente, US$ 250.000 àqueles cientistas com pesquisas e projetos de relevância ambiental, dedicados a encontrar soluções em conservação natural, políticas públicas e economia do meio ambiente. 

Este ano, pela primeira vez desde sua instituição, há mais de cinco décadas (fundado em 1973), dois cientistas sul-americanos foram premiados naquele que é conhecido como o "Nobel" das ciências ambientais: o brasileiro Eduardo Brondízio, antropólogo na Universidade de Indiana e membro do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Sociedade da Unicamp, e a ecologista argentina Sandra Díaz. 

Eduardo Brondízio. Créditos: Unicamp/divulgação
Sandra Díaz. Créditos: Wikipedia

Brondízio se dedica, há mais de 35 anos, a pesquisas sobre a biodiversidade e a conservação ambiental da Amazônia, com projetos de política sustentável que consideram a relação entre o conhecimento local de raiz indígena e a governança ambiental da floresta.

Díaz, por sua vez, tem um "trabalho interdisciplinar consagrado", afirma a instituição responsável pela premiação, e foi responsável pela elaboração da primeira base de dados quantitativos sobre a diversidade funcional de plantas vascularizadas. Com atenção especial aos diversos papéis realizados por diferentes organismos dentro de um único ecossistema, Díaz desenvolve pesquisas relacionadas ao funcionamento saudável das florestas e dos ecossistemas, analisando sua armazenagem de água, seu ciclo de carbono e biodiversidade específica.

Díaz e Brondízio trabalharam juntos, com a liderança do pesquisador alemão Josef Settele, entomologista especializado no uso sustentável da terra para a conservação de espécies ameaçadas, em um relatório de avaliação de biodiversidade para a ONU (Organizações das Nações Unidas). Após mais de uma década de colaboração, eles combinaram uma abordagem multidisciplinar, com estudos antropológicos, ecológicos e de valorização dos conhecimentos nativos, a análises de imagens coletadas por satélites e por técnicas de georreferenciamento, a fim de "entender como as mudanças ambientais, sociais e econômicas se interconectam". 

Os trabalhos envolveram, por exemplo, o mapeamento de áreas de produção de açaí por populações locais da Amazônia, e estudaram como a paisagem amazônica se transforma, junto à economia social, ao longo do tempo. Hoje um grande mercado, a extração de açaí se iniciou com a população ribeirinha, que atendia às demandas urbanas pelo fruto nas décadas de 1970 e 1980. 

Além de mapear mudanças no ecossistema, a pesquisa de Brondízio contribui com a preservação de empregos que dependem da floresta, auxiliando na continuação das atividades de pequenos produtores rurais e na garantia de segurança alimentar — altamente dependente da diversidade de culturas e da manutenção do espaço natural.

A cerimônia oficial de premiação deve ocorrer em Los Angeles no dia 10 de abril.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar