A cidade de Los Angeles, localizada na costa oeste dos Estados Unidos, enfrenta uma grave emergência devido a pelo menos cinco incêndios ativos, sendo três deles classificados pelas autoridades como "incontroláveis". A prefeita Karen Bass destacou, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (9/1), que os ventos que assolam a região atingiram proporções "históricas", intensificando os incêndios. Segundo Bass, a combinação desses ventos com a seca severa resultou em uma "tempestade perfeita" para a propagação das chamas.
De acordo com dados oficiais, as tragédias já resultaram em cinco mortes, dezenas de feridos e na destruição de mais de 2 mil residências e edifícios. Quase 130 mil moradores foram obrigados a evacuar suas casas, e os prejuízos econômicos ultrapassam US$ 10 bilhões (R$ 61 bilhões). Entre os afetados, destacam-se celebridades como Billy Crystal e Paris Hilton, além de moradores das regiões costeiras e bairros na área oeste da cidade.
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1. O impacto dos ventos de Santa Ana
Os ventos de Santa Ana, que chegaram a 161 km/h, são apontados como um dos principais fatores da rápida propagação dos incêndios. Segundo especialistas, esses ventos extremamente secos removem a umidade da vegetação, criando condições ideais para o surgimento e a expansão das chamas. Anthony Marrone, do corpo de bombeiros local, explicou à BBC que o uso de aviões e helicópteros para conter os incêndios tornou-se inviável devido à intensidade dos ventos. Assim, as equipes dependem exclusivamente do sistema de hidrantes urbanos, que, embora eficaz em áreas residenciais, é inadequado para incêndios florestais.
2. Tições
Os ventos não apenas intensificam as chamas e impulsionam os incêndios pelas áreas naturais, mas também espalham brasas pelo ar. Essas brasas, ou tições, são responsáveis pela maior parte das perdas estruturais durante incêndios florestais, segundo Rory Hadden, pesquisador de ciência do fogo na Universidade de Edimburgo. "Elementos como estradas e prédios podem bloquear as chamas", explica ele. "Mas nada consegue barrar as brasas, que continuam viajando."
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Os ventos carregam brasas de áreas queimadas, espalhando-as à frente do incêndio. Essas partículas incandescentes podem percorrer desde pequenas distâncias até dezenas de quilômetros, acendendo materiais próximos ou iniciando novos focos de incêndio em locais afastados. "Há relatos de brasas viajando dezenas de quilômetros, pousando em frestas de casas ou na vegetação ao redor, iniciando incêndios que rapidamente atingem as estruturas", detalha Hadden.
Embora bombeiros possam conter as chamas se apenas uma casa for atingida, o cenário se torna crítico quando dezenas de imóveis são incendiados ao mesmo tempo pelas brasas. "Cada casa em chamas gera ainda mais brasas, criando um efeito dominó alimentado pelos ventos", alerta Hadden.
3. Falta de infraestrutura hídrica
O diretor de Obras Públicas de Los Angeles, Mark Pestrella, afirmou que o consumo de água para combate ao fogo excede a capacidade de reposição dos tanques na cidade. Ele citou o caso de Palisades, onde os reservatórios ficaram completamente vazios em poucas horas, deixando as equipes sem recursos hídricos suficientes. Jay Lund, professor de engenharia ambiental da Universidade da Califórnia, acrescentou que o problema não é a falta de água no sul da Califórnia, mas a incapacidade de disponibilizá-la rapidamente nas áreas afetadas.
4. Geografia montanhosa
A geografia montanhosa da região também contribui significativamente para a intensificação dos incêndios florestais. "Chamas tendem a subir rapidamente", explica Hadden. "Formações como cânions e ravinas podem gerar padrões de fogo extremamente intensos, tornando seu combate um desafio imenso – em alguns casos, praticamente impossível." Além de favorecer a propagação das chamas, essa topografia dificulta as operações de evacuação. Segundo Mike Bonin, ex-vereador de Los Angeles, as estradas estreitas e sinuosas das áreas montanhosas, como em Palisades, complicam a saída dos moradores, aumentando os riscos durante a fuga, conforme relatado ao New York Times.
5. Mudanças climáticas agravam a situação
Matt McGrath, especialista em meio ambiente, destacou que as condições climáticas extremas tornam os incêndios mais devastadores. Ele mencionou o fenômeno conhecido como "chicote climático", que alterna períodos de chuvas intensas com secas severas, permitindo o crescimento da vegetação em um ano para depois torná-la altamente inflamável. Estudos indicam que o aquecimento global tem intensificado esses eventos, tornando-os mais frequentes e severos em regiões como a Califórnia, contribuindo para incêndios de grande magnitude como os atuais.
*Com informações de BBC