BRASIL REAL

Fogo e drones assombram Terra Indígena no Pará

Apesar da promessa de autoridades, a combinação de criminosos com o tempo seco se impõe

Morte.Os focos de fogo no horizonte e a mortandade dos bichos, registrados pelos próprios indígenas.Créditos: Cortesia Cacique Katê
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Novos focos de incêndio estão ameaçando famílias que moram na Terra Indígena Mãe Maria, em Bom Jesus do Tocantins, no Pará, informou à Fórum o cacique Katê, do povo Gavião Parkatêjê.

O nome da etnia tem relação com as penas de gavião tradicionalmente utilizadas nas flechas, mas hoje a cultura está ameaçada pelo fogo.

Bom Jesus fica a pouco mais de 150 km de Marabá, no Sul do Pará, onde a pecuária e a coleta de madeira em terras públicas são atividades econômicas que ameaçam o meio ambiente.

A Terra Indígena, de cerca de 60 mil hectares, é um oásis quando vista a partir de imagens de satélite: ainda preserva uma grande área de floresta em meio ao avanço dos pastos, mas ela vem sendo velozmente degradada.

As etnias que residem na Mãe Maria estão sob constante ameaça, pois o território é cortado pela BR 222, por uma linha de transmissão da Eletronorte e pela Estrada de Ferro Carajás, através da qual a Vale escoa minério de ferro em imensos trens, diariamente, para exportação através de um porto no Maranhão.

Emergência

“Estamos pedindo socorro”, resumiu o cacique Katê em mensagem à Fórum.

O Corpo de Bombeiros do Pará tem uma operação anual para combater incêndios florestais, a Operação Fênix, mas este ano foram tantos os focos de fogo que os recursos ficaram escassos.

Há duas semanas, o cacique já havia denunciado:

As castanheiras e os pés de açaí todos queimaram e os animais estão sendo mortos pelo fogo. Precisamos de uma ação emergencial urgente. Já queimou 15 quilômetros de floresta.

De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Pará teve mais de 20 mil focos de fogo este ano até o final de agosto.

Os 700 moradores da Terra Indígena já formalizaram uma denúncia junto à Secretaria de Segurança do Pará, pois vivem “assombrados” por drones que monitoram a área. Os suspeitos são caçadores e madeireiros ilegais, que vigiam os indígenas e localizam os recursos que pretendem assaltar.

Colunas de fumaça

Belém será a sede da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, mas se viajarem ao Sul do Pará os convidados estrangeiros vão encontrar uma situação complexa, em que os indígenas são os principais protetores da floresta mas vivem acossados por pecuaristas, grileiros, caçadores, garimpeiros e madeireiros.

Assistidos em Bom Jesus do Tocantins, de pouco mais de 20 mil habitantes, os discursos do presidente Lula na ONU sobre o combate à mudança climática parecem se referir a outro planeta.

Os parkatêjê da Terra Mãe Maria pelo menos agora dispõe de seu próprio drone, para acompanhar os focos de incêndio.

Na semana passada, novos pontos de fogo surgiram na floresta. Uma imagem de drone enviada à Fórum pelo cacique Katê mostra colunas de fumaça subindo na vizinhança de uma aldeia.

A Secretaria de Estado dos Povos Indígenas (Sepi) já havia enviado brigadistas para combater o fogo na área. A suposição é de que os incêndios sejam criminosos, distraindo autoridades e lideranças indígenas para dar cobertura a ações ilegais.

Para complicar, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), o Brasil vive este ano a pior seca em âmbito nacional desde o início das medições.

O cacique Katê já teve de remover alguns moradores de aldeias por causa do risco à saúde:

Eles não têm condições de dormir no local. Estão inalando fumaça há dias. Tem idosos se sentindo mal.