QUEIMADAS

Banco Central permite R$2,6 Bilhões em Crédito Rural para fazendas acusadas de queimada

Segundo levantamento de entidade ambiental, pelo menos 1.389 propriedades foram beneficiados pela linha de Crédito Rural

Faixada do Banco Central do Brasil em Brasilia..Créditos: Repridução/Agência Brasil
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

Pelo menos 1.389 propriedades envolvidas em queimadas, ocorridas entre 1º de julho e 26 de agosto, foram beneficiadas por crédito subsidiado de bancos, de acordo com relatório baseado em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e nos registros do Banco Central do Brasil (BCB). As propriedades envolvidas em queimadas receberam R$ 2,6 bilhões em crédito rural voltado para a agropecuária, segundo as informações.

Considerando áreas com crédito ativo em 2024, o levantamento realizado pelo site InfoAmazonia revela que 86 propriedades com registro de fogo no último bimestre já eram alvos de embargos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por infrações ambientais; e mesmo assim, obtiveram acesso a créditos.

Segundo especialistas, os dados apontam também para falta de clareza quanto aos critério e fiscalização na concessão de crédito rural, para a qual o Banco Central não considera adequadamente as punições por desmatamento causado por queimadas.

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“Bancando a extinção”

Em outro relatório, publicado em abril deste ano pelo Greenpeace Brasil, intitulado “Bancando a Extinção”, os dados indicam que, mesmo sob embargo por descumprimento de regras ambientais, 2.261 propriedades rurais foram beneficiadas com 353 operações de crédito entre julho de 2008 e junho de 2024.

As principais instituições na concessão de crédito são Banco do Brasil (266), Banco da Amazônia (61), Banco do Nordeste (6), Cooperativas de Crédito (19) e Bradesco (1) — totalizando R$ 68.276.530,51 em crédito. Desse montante, 80% foram destinados à Amazônia e 20% ao Cerrado.

Na Amazônia, das 122 propriedades rurais embargadas por uso ilegal de queimadas que receberam financiamento, 116 sofreram incêndios pelo menos uma vez ao longo de seis anos. A área atingida por essas queimadas é tão extensa que supera o tamanho de Paris em quase duas vezes. Apenas na região, somam-se R$ 54,6 milhões em crédito para propriedades embargadas.

Já no Cerrado, 7 das 11 fazendas nas mesmas condições, com embargo por queimadas ilegais e acesso a crédito rural, também registraram focos de incêndio nesse período, devastando uma área de 8.340 hectares — o equivalente a 11.914 campos de futebol.

Falta de fiscalização

O financiamento de propriedades infratoras ocorre devido à falta de clareza do Manual de Crédito Rural (MCR 2-9). Embora o manual preveja sanções em casos de desmatamento e proíba financiamento em áreas de preservação, não há caracterização precisa para os casos de queimada --- permitindo que, mesmo com as ondas de incêndios criminosos no Pantanal desde 2020 até 2024, não houvesse registros de embargo por queimadas nesse período.

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