ESTIAGEM

Manaus decreta situação de emergência por conta da seca

Rio Negro pode atingir nível mais baixo de sua história; comunidades que vivem da pesca já sofrem os efeitos

Pôr do sol no Rio Negro, em julho de 2023 Créditos: Fabio Rodrigues-Pozzebom
Escrito en MEIO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE el

A prefeitura de Manaus decretou nesta quinta-feira (12) situação de emergência de 180 dias em função da seca que afeta o Rio Negro. Segundo a Agência Nacional de Águas, o rio está abaixo da média histórica para este período do ano e atingiu a marca de 16,97 metros no município.

O cenário se torna ainda mais preocupante por conta da continuidade da tendência de redução, já que, em 2023, o nível mais baixo só foi atingido em 26 de outubro, quando atingiu 12,70 cm, a pior marca de sua história. As águas só voltaram a subir em novembro. 

Com o decreto da prefeitura, a capital amazonense entra na lista dos municípios que devem receber recursos do governo federal para enfrentar a estiagem. Desde o final de agosto, o estado do Amazonas também havia decretado emergência em Manaus e nos demais 62 municípios.

Segundo a Secretaria Municipal de Segurança Pública e Defesa Social, responsável pela Defesa Civil Municipal, 93 comunidades ribeirinhas, rurais e não-ribeirinhas em áreas urbanas dedicadas à pesca devem ser afetadas por conta da estiagem.

Seca e mudanças climáticas

Antes de viver sua pior estiagem no ano passado, a Amazônia já havia registrado episódios recentes de seca extrema e prolongada em 2005, 2010, 2015, 2016 e em 2022-2023.

Em artigo publicado em abril na revista científica Scientific Reports, pesquisadores apontaram que a estiagem de 2023 refletia o cenário das mudanças climáticas em nível local e global. Estudos já indicavam que a porção sul e sudoeste da Amazônia havia experimentado uma grande redução de chuvas a partir de novembro de 2022, o que era atípico, já que é período caracterizado pelo início da época úmida na região. Isso estaria associado ao esfriamento das águas da região equatorial do oceano Pacífico, fenômeno conhecido como La Niña.

O La Niña provoca a diminuição da umidade no sul da América Sul, em especial na faixa que se estende entre o sul do Brasil, norte da Argentina e Paraguai. “No entanto, o La Niña nos últimos anos foi tão intenso que o resultado foi que a diminuição dos níveis de precipitação se estendeu até a Amazônia boliviana, próxima à fronteira com os estados de Rondônia e Acre, e os Andes tropicais”, aponta o climatologista e coordenador do estudo, Jhan-Carlo Espinoza, do Instituto Francês de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), ao Jornal da Unesp.

O estudo explica que a intensidade pode ter aumentado por conta do aquecimento global e do desmatamento na região. “À medida que é desmatada, ela perde progressivamente a capacidade de retirar mais carbono da atmosfera, o que agravaria o aquecimento global, e de fornecer vapor de água para que a chuva se forme sobre ela mesma e outras regiões”, pontua Espinoza.

E os impactos não se limitam à região. A Amazônia responde por boa parte da umidade, com os rios voadores, das demais regiões do país, como o Centro-Oeste e o Sudeste e o Sul, e da própria América Latina.“O artigo não chega a fazer prospecções de cenários futuros. Porém, lamentavelmente, se esses dois fatores não forem controlados, a tendência é que tendam a crescer com o tempo. E muitas publicações que analisam cenários futuros sugerem que as condições mais secas e mais quentes, por volta do ano 2050, se tornem algo normal na Amazônia”, aponta o climatologista.

Com informações de Agência Brasil e Jornal da Unesp