A maior região de gás fóssil do Maranhão, localizada em Santo Antônio dos Lopes, está sendo explorada pela Eneva, empresa brasileira de energia que atua nos setores de produção de petróleo e gás natural, mas os benefícios prometidos para as comunidades locais, como forma de compensação das atividades exploradoras, continuam sem perspectivas de chegada.
No quilombo de Bom Jesus dos Pretos, no município de Lima Campos, o programa Quintal Produtivo foi criado pela Eneva como forma de reparação dos efeitos da sua atuação na região. Iniciado em 2021, o programa foi idealizado para oferecer aos moradores opções como porcos, galinhas ou hortas para geração de renda.
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No entanto, essa não tem sido a realidade. Denúncias de atrasos e promessas não cumpridas cresceram nos últimos meses, expondo a insatisfação das comunidades com as ações da Eneva. É esse o caso de João Macenas Silva Santos, aposentado de 69 anos, que relatou, em entrevista à Folha, nunca ter recebido os animais prometidos. Por outro lado, a empresa alega que os prazos para a entrega de benefícios só serão encerrados em 2026.
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Quebradeiras de coco de babaçu sofrerem com exploração
Além das críticas à execução do programa, a exploração do gás fóssil tem trazido desafios para meio ambiental e a cultural da região. A construção de gasodutos e a abertura de poços têm impactado diretamente a vida das quebradeiras de coco, que dependem do babaçu para seu sustento. São aproximadamente 1.200 mulheres ainda colhem o fruto, mas enfrentam dificuldades como derrubada de palmeiras, interrupção de rotas e fechamento de igarapés, essenciais para sua atividade.
Apesar das adversidades, iniciativas como o sabonete Babaçu Livre, produzido de forma artesanal por uma cooperativa de mulheres em Lago do Junco, demonstram a resistência da cultura local. O produto, feito com óleo vegetal do babaçu, leva ao mercado a mensagem de proteção à floresta e ao trabalho tradicional.
Maria Alaídes Alves, liderança das quebradeiras, enfatiza a importância do babaçu como símbolo de sobrevivência e identidade cultural. “A palmeira do babaçu é nossa mãe; o coco é nosso ouro”, desabafa. Seu relato reflete a luta de gerações que enxergam no babaçu não apenas um meio de vida, mas um vínculo inquebrável com a história e o território que se vê, agora, ameaçado pela exploração de gás.
Para o ambientalista e advogado, Guilherme Zagallo, "os combustíveis fósseis representam um símbolo ultrapassado que intensifica as mudanças climáticas". Ele ressalta ainda que a exploração de gás não traz melhorias para a vida das comunidades locais, e a geração de energia elétrica pouco contribui para o aumento da arrecadação municipal.
"Além disso, a população precisa conviver com uma vizinhança poluente e barulhenta, representada por empresas que empregam poucas pessoas, já que as usinas operam com quadros reduzidos de funcionários", critica em entrevista à Folha.
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