AQUECIMENTO GLOBAL

Conheça Chonkus, a bactéria que pode ser fundamental no combate à crise climática

Descoberto na costa da Itália, microorganismo tem grande capacidade de capturar carbono, um dos principais gases do efeito estufa; entenda como ele pode ajudar o planeta

As manchas brancas na imagem da cianobactéria Chonkus parecem ser grânulos densos em carbono, o que pode explicar por que ela cresce tanto na presença do elemento químico e afunda tão rapidamenteCréditos: Wyss Institute na Universidade de Harvard
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Pesquisadores dos Estados Unidos e da Itália descobriram uma nova cepa de cianobactérias na costa da ilha de Vulcano, na Sicília, Itália, que pode ajudar a limpar a atmosfera do dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento do planeta e para as mudanças climáticas.

A descoberta da UTEX 3222, apelidada de Chonkus, foi descrita em um artigo publicado no final de outubro na Applied and Environmental Microbiology. As cianobactérias, chamadas também de algas azuis ou cianofíceas, são um grupo de bactérias fotossintetizantes que produzem seu próprio alimento utilizando a luz solar e dióxido de carbono e estão entre os organismos vivos mais antigos do planeta.

“Essa cepa natural de cianobactérias tem várias características que podem ser úteis para os humanos, incluindo crescimento altamente denso e uma tendência natural de afundar na água, tornando Chonkus um organismo particularmente interessante para trabalhos futuros em descarbonização e biofabricação”, aponta o coautor correspondente Max Schubert, cientista da equipe do Wyss Institute na Universidade de Harvard.

Para mitigar o impacto das mudanças climáticas, tecnologias têm sido desenvolvidas não só para reduzir as emissões de carbono como também para capturá-lo, aplicação que poderia ser utilizada a partir da bactéria. 

Como foi a descoberta

A jornada que culimou na descoberta de Chonkus começou com Schubert e o colega e também autor da pesquisa Braden Tierney recebendo um artigo sobre infiltrações rasas, que são áreas no fundo do oceano onde gases infiltram na água, mas não são tão profundas que não possam receber luz solar, possibilitando a existência de micróbios fotossintéticos que capturam o CO2 dissolvido da água.

Eles entraram em contato com Marco Milazzo e Paola Quatrini, ambos professores da Universidade de Palermo, na Sicília, que estudavam estas infiltrações e organizaram uma expedição de coleta na costa de Vulcano. Depois, enviaram tubos de água do mar para Boston, nos Estados Unidos, onde cientistas isolaram os micróbios que viviam nas amostras. Após o isolamento, duas linhagens de cianobactérias de crescimento rápido foram descobertas: UTEX 3221 e UTEX 3222. 

A UTEX 3222 produziu colônias maiores do que outras cepas de rápido crescimento conhecidas, e suas células individuais também eram maiores. Ela também cresceu com uma densidade maior do que as demais, abrigando grânulos de armazenamento contendo carbono em suas células, características fundamentais para aplicações como sequestro de carbono.

Rapidamente, Chonkus produziu uma espécie de "manteiga de amendoim verde" no fundo de seus tubos de amostra, o que também é importante para o processamento industrial, já que a concentração e a secagem da biomassa atualmente respondem por 15 a 30% dos custos de produção.

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Um estudo realizado em 2022 sobre o uso de algas para sequestro de carbono descobriu que empregar cianobactérias poderia produzir ainda produtos úteis como biocombustíveis e bioplásticos. Chonkus, agora, se junta a outras bactérias encontradas em cavernas que podem cristalizar carbono em apenas dez dias, apesar desse processo levar geralmente até dez anos em circunstâncias normais.