Este ano, o Pantanal enfrenta um cenário preocupante com o fogo consumindo grandes áreas do bioma. A origem desses incêndios, segundo dados de diferentes instituições, como o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é majoritariamente humana, com 95% dos focos registrados no primeiro semestre do ano tendo iniciado em propriedades privadas, isto é, área de expansão do agro.
O número de focos de incêndio no Pantanal já bateu recorde para o período, com 3.372 registros até o dia 25 de junho. Apenas 5% dos focos, ou seja,189 áreas, ocorreram em Terras Indígenas (TIs) e unidades de conservação (UCs), estaduais ou federais, segundo os estudos.
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Somente o mês de junho já registrou o maior número de focos de incêndio desde o início do monitoramento pelo Inpe em 1998. Vale lembrar que o Pantanal é o segundo maior bioma brasileiro em termos de propriedades privadas, com uma proporção significativa de terras sob controle particular.
Especialistas apontam que a alta incidência de propriedades privadas no Pantanal, muitas vezes fora do alcance dos órgãos ambientais, amplifica sua vulnerabilidade às ações humanas, fato evidenciado este ano pelo aumento dos incêndios florestais na região.
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Além disso, dados do Laboratório de Satélites Ambientais (Lasa) da UFRJ revelam que menos de 1% de todos os focos de calor detectados pelos satélites da universidade tiveram origem em fatores naturais. Segundo o monitoramento, apenas nos meses de janeiro, fevereiro e abril houve registros de incêndios iniciados por esse motivo.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, se manifestou em coletiva de imprensa, na segunda-feira (25), sobre os incêndios que atingem o Pantanal, no Mato Grosso do Sul e destacou que a maioria era em propriedades privadas.
"O que está acontecendo é incêndio por ação humana (...) 85% dos incêndios estão dentro de propriedades particulares. Nós temos uma responsabilidade sobre as unidades de conservação federal, mas neste momento nós estamos agindo, dos 26, 27 grandes incêndios, o governo federal está agindo em 20 incêndios, mesmo não sendo de nossa competência", afirmou.
As Forças Armadas ampliaram seus esforços para conter as chamas. Nos últimos dias, seis helicópteros e dois aviões foram disponibilizados para auxiliar no combate ao fogo na região.
Em 2020, a Fórum entrevistou a geógrafa Lívia Carvalho Moura, doutora em Ecologia e Assessora Técnica no Programa Cerrado e Caatinga no Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) para entender as causas principais dos incêndios no Pantanal que, naquela época, quando Jair Bolsonaro era presidente, também batiam recordes. As razões eram as mesmas: focos em áreas privadas com a expansão do agronegócio na região.
“Os incêndios são agravados com condições meteorológicas extremas ou eventos climáticos, como redução de chuvas que podem levar ao estresse hídrico e períodos de estiagem prolongados. A condição meteorológica favorável não explica por si só o aumento desses incêndios, mas sua combinação com o aumento do desmatamento nestes biomas para expansão agropecuária, a falta de manejo do fogo adequado para cada ecossistema e o aumento de crimes ambientais”, disse Lívia.
Leia a entrevista completa concedida à Fórum.