ONDA DE CALOR

São Paulo e a onda de calor: como a cidade piora o que já é ruim

Modelo urbano adotado pela metrópole contribui para a emissão de carbono, agravando as condições climáticas

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Governo do Estado de São Paulo/Flickr

Segundo a MetSul Meteorologia, a cidade de São Paulo pode ter nesta sexta-feira (3) uma temperatura máxima de até 33ºC, o mesmo valendo para o fim de semana. É a continuidade da onda de calor que deve registrar um novo recorde histórico para o mês de maio.

Na tarde de 1° de maio, a capital paulista teve 31,3°C. A última vez que a cidade havia registrado temperatura igual ou superior a 30°C em um mês de maio foi em 2010.

"Nós estamos vivendo em SP dois graus a mais do que a média histórica medida pelo IAG da USP, isto é mais que a média de crescimento da temperatura mundial", aponta a urbanista e professora da FAU-USP Raquel Rolnik, em entrevista à Rádio USP.

De acordo com ela, a cidade ainda tem características que contribuem para a emissão de carbono, piorando ainda mais o cenário de mudanças climáticas.

Transporte e edifícios são vilões das mudanças climáticas

"Nós temos duas questões. Primeiro, como garantir o conforto e a vida diante de uma temperatura tão alta, mas a outra dimensão é o modelo de cidade, o que tem provocado essas emissões de carbono que levam a essa mudança climática", pontua. "E, de fato, é um modelo extremamente carbocêntrico."

Rolnik destaca que o transporte é o responsável por 61% do total de emissões da cidade. "E a coisa mais contraditória é que, de fato, São Paulo fez um plano em 2011 para tentar enfrentar essa questão climática", recorda. "Na verdade, nós estamos completamente aquém das metas, nós já teríamos que estar trabalhando com eletrificação do transporte coletivo há muito tempo."

A forma como as edificações são construídas também ajudam a piorar o problema da emissão. "Quanto mais esses prédios consumirem carbono, consumirem elementos da cadeia petroquímica, e quanto mais esses prédios forem construídos de uma maneira que precise de muita energia para ser climatizado – por exemplo, prédios de vidro, que precisam de ar condicionado no máximo –, isso é um altíssimo consumo de energia."

"Nós vamos ter que trabalhar com uma gestão muito mais inserida no cotidiano das regras da cidade e não um plano paralelo que não tem incidência sobre nada", defende.

Soluções urbanas

Em 2019, a ONU Meio Ambiente, agência do Sistema das Nações Unidas (ONU) responsável por promover a conservação ambiental e o uso eficiente de recursos, já alertava para a questão das edificações em cidades e o consumo excessivo de energia.

"Cerca de 40% da energia consumida por edifícios em todo o mundo é usada para aquecimento e resfriamento de ambientes", explicava Martina Otto, que chefia a secretaria da Aliança Global sobre Edifícios e Construções da agência. "O resfriamento de ambientes está entre os usos de energia que mais crescem em edifícios. Com temperaturas mais altas, mais urbanidades e padrões de vida cada vez mais altos, precisaremos de uma multiplicidade de soluções para fornecer conforto térmico enquanto protegemos a saúde humana."