CRISE CLIMÁTICA

Porta do Inferno: Por que aumento da maior cratera do mundo tem relação com mudanças climáticas

De acordo com cientistas alemães e russos, expansão da cratera de Batagaika, na Sibéria, ocorre em ‘alta velocidade’ e preocupa

Cratera de Batagaika.Créditos: Nasa/Wikimedia Commons
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Apelidada de “Porta do Inferno” nos meios de comunicação, a cratera de Batagaika está localizada na Sibéria, na remota República de Sakha, na Rússia. Trata-se do maior buraco na crosta terrestre catalogado pela humanidade. Nesta segunda-feira (20), a Deutsche Welle, agência de notícias alemã, publicou uma matéria sobre um estudo de cientistas russos e alemães que alertam que a expansão da cratera está fora de controle, tem relação com as mudanças climáticas e preocupa a comunidade científica.

De acordo com o estudo, a cratera de Batagaika está se expandindo a uma taxa de um milhão de metros cúbicos por ano por conta do derretimento da permafrost. Isso corresponde a aumentos anuais de 12 metros em sua largura. A cratera foi descoberta em 1991 através de imagens de satélite depois que o colapso de uma encosta na região ao norte do território chamou a atenção dos cientistas e das autoridades.

A República de Sakha, onde está a cratera, fica na Sibéria em porção leste do norte da Rússia. Faz fronteira com o Mar do Norte ao norte e, nas outras direções, com outras repúblicas russas [veja mapa abaixo]. 40% do seu território está ao norte do Círculo Polar Ártico e é coberto por permafrost. Mais ao sul, a região terá os biomas da Tundra ártica e subártica, além da Taiga, um tipo de floresta que cobre 47% do território.

Repúblicas da Federação. A República de Sakha está marcada em verde. Créditos: Wikimedia Commons

É na região de permafrost, onde fica a cratera. O nome é dado a uma enorme porção do solo próxima ao ártico, que cobre mais de 23 milhões de quilômetros quadrados em todo o mundo e que fica completamente congelado abaixo da superfície.

Segundo estudos recentes, a permafrost armazena 1700 bilhões de toneladas de carbono. Caso descongele, para além das mudanças locais no solo, também poderá liberar gases de efeito estufa em níveis avassaladores e até vírus e bactérias tidos como 'novos' pela humanidade. As camadas da permafrost já estão derretendo. Nos últimos 30 anos, apresentaram um aumento médio de temperatura entre 1,5 e 2,5 graus Celsius.

Na “Porta do Inferno” não é diferente. De acordo com os cientistas ouvidos pela DW, as mudanças climáticas têm provocado o derretimento da permafrost na região da República de Sakha, onde esse tipo de solo permaneceu congelado por 650 mil anos, sendo o mais antigo permafrost da Sibéria e um dos mais antigos do mundo. Ou seja, se está descongelando ali é porque a situação está complicada.

A permafrost é como se fosse um “cimento congelado” que segura o solo e a própria existência da cratera já poderia indicar que o solo está em vias de descongelamento.

O permafrost é esse solo cinzento e congelado abaixo do chão. A foto é da Herschel Island, no Alaska (USA), mas o tipo de solo é o mesmo encontrado na Sibéria. Créditos: Wikimedia Commons

Nesse sentido, explicam os cientistas da Universidade Estatal de Lomosonov (Moscou) e do Instituto Melnikov para o Permafrost que à medida que a permafrost vai descongelando, o tamanho da cratera vai aumentando. A partir de um modelo geológico em 3D, estimaram a taxa de crescimento de 12 metros por ano da cratera e sua profundidade, que seria de 55 metros para baixo da borda.

Eles publicaram um estudo no jornal científico “Geomorphology” em que apontam que desde 2014 a cratera já cresceu 200 metros. Ao todo, seu diâmetro tem cerca de 900 metros.

A principal preocupação não é com a cratera em si, ou com a própria região onde está localizada, que é remota e longe de qualquer cidade russa. A questão é que a expansão acelerada da “Porta do Inferno” sugere também uma escalada no derretimento da permafrost em todo o mundo e nas milhares de toneladas de carbono que colocará na atmosfera.

De acordo com os estudos divulgados pela DW, só levando em consideração o degelo da cratera de Batagaika foram 5 mil toneladas de carbono liberadas por ano. A estimativa para os últimos 50 anos gira em torno de 170 mil toneladas.