Não durou um dia o discurso do meteorologista negacionista, Luiz Carlos Molion, na última segunda-feira (4). Ele afirmou no Senado, na CPI das ONGs, que o super El Nino é "alarmismo incrível" da imprensa e que o Rio Grande do Sul "NÃO VAI TER o excesso de água que é a características de El Nino".
No dia seguinte, terça-feira (5), chuvas devastadoras desabaram sobre diversas cidades do Rio Grande do Sul, provocadas pela formação simultânea de um ciclone extratropical e de uma frente fria que se intensificaram pela ação de um El Niño. Até este domingo (10), a Defesa Civil já confimou 43 mortos e 46 desaparecidos no estado em decorrência da tragédia.
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Além disso, o número de pessoas fora de casa aumentou em relação ao sábado: são 3.798 desabrigados e 11.642 desalojados.
O discurso irresponsável de Molion, que viralizou nas redes, pode ser revisto no vídeo abaixo:
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Financiado por ruralistas
Segundo reportagem da BBC Brasil de novembro de 2021, entidades ligadas a ruralistas estão bancando o meteorologista Ricardo Felício, professor da Universidade de São Paulo, e Luiz Carlos Molion, professor aposentado da Universidade Federal de Alagoas, para pregarem o chamado negacionismo climático, vertente de radicais - como aqueles que acreditam que a Terra é plana - que rejeitam as teses da influência humana na mudança da temperatura do planeta e negam até mesmo o aquecimento global.
O texto de Juliana Gragnani afirma que associações de fazendeiros de soja, passando por cafeicultores, sindicatos rurais, faculdades ligadas a agronomia e até uma empresa de fertilizantes estão pagando para que os dois "pesquisadores" propaguem a tese estapafúrdia de que o aquecimento global seria uma teoria da conspiração contra países em desenvolvimento e, em grande parte, ruralista - escopo que serve perfeitamente ao Brasil.
"Os objetivos [de quem fala em mudanças climáticas] são congelar os países em desenvolvimento. O Brasil é o principal foco dessas operações que envolvem meio ambiente e clima. A ideia da mudança climática e dessas questões ambientais são para segurar o nosso desenvolvimento", afirmou Felicio, sem respaldo científico, em uma entrevista concedida após palestra em uma faculdade do Mato Grosso em 2019.
A tese defendida por Felício, que chegou a ser cotado para ser ministro do Meio Ambiente antes de Ricardo Salles, dá amparo e vai ao encontro da política conduzida pelo governo Jair Bolsonaro (PL), que foi tratado como pária na COP26.
Levantamento feito pela BBC mostra que ao menos 20 palestras do tipo foram feitas pelos dois bolsonaristas nos três anos anteriores. As apresentações são direcionadas a outros fazendeiros, produtores rurais ou estudantes de agronomia.
"Ao mesmo tempo em que negam o aquecimento global antropogênico, as palestras pagas e vistas por ruralistas os absolvem de reconhecer seu papel nas mudanças climáticas. Elas seriam, de acordo com o conteúdo contrário ao consenso científico apresentado pelos professores, somente fruto de variações naturais, sem interferência alguma do homem", diz o texto.